Procurem na rua um artesão que vende o famoso pássaro equilibrista. Não lhe perguntem o princípio físico que suporta este precioso equilíbrio, perguntem-lhe como é que, através da sua arte, ele consegue obter esse mesmo equilíbrio.
Observar este princípio físico do
pássaro equilibrista é bastante simples. Colocando as penas da cauda no suporte,
ou na ponta do dedo, a que se chama ponto de apoio, ele oscila em torno desse ponto
de equilíbrio sem cair. Ou simplesmente podemos fazê-lo girar na horizontal em
torno do ponto de apoio.
Por que é que o pássaro não cai?
O princípio físico é bastante simples: quando apoiamos o pássaro no ponto de
apoio ele fica em equilíbrio devido ao contrapeso que existe nas extremidades
das asas, que têm a função de deslocar o centro de massa do pássaro. No fundo,
a posição média de toda a massa que constitui o corpo fica sobre o ponto de apoio
e, desta forma, temos um equilíbrio estável do pássaro. É só por isto que ele
na cai.
Muitas destes encontros com a Ciência
acontecem quase sempre fora da Escola. Num dos últimos artigos de Paulus
Gerdes, “Reflexões
sobre o ensino da matemática e diversidade cultural”, publicado na Revista Latino-americana de Etnomatemática (vol. 7, núm.
2, junho – setembro de 2014), ele explora alguns exemplos, que surgem em
contexto de aprendizagem não-formal, para potenciar a sua utilização na
formação de professores e com os alunos do ensino secundário.
Ainda sobre o trabalho de Paulus Gerdes e,
desta feita, ao livro “Sipatsi: cestaria e geometria na cultura Tonga de Inhambane”,
publicado pela Moçambique Editora, em 2003. Nele podem ficar a saber
a forma de trabalhar das mulheres que produzem os belos cestos de Inhambane. As
figuras geométricas e os padrões obtidas através do simples entrelaçar de
várias palhas coloridas originam padrões e formas matemáticas como se tivessem
toda a Geometria nas mãos. É certo que estará algures no cérebro, sendo este um
conhecimento inato que passa de geração em geração, mas que surpreendentemente
foi evoluindo na complexidade das formas obtidas.
As cesteiras, na sua maioria mulheres, nunca foram à Escola
aprender a sua arte. É este trabalho que pode ser essencial para estabelecer
uma ligação cultural que valorize o seu saber e que pode ser aproveitado para a
formação de professores e alunos com uma forte componente étnica ou local. Agora
observem um cesto, um simples cesto, e vejam a Arte e a Matemática que ele
contém.
Com os muitos exemplos que
conhecemos do “saber empírico” que nos rodeia e o saber fazer inato que passa
de geração em geração, devemos todos refletir sobre a sua importância e qual o
processo necessário para fazer germinar nos nossos jovens o interesse e a
criação de gosto pela Ciência e pela Arte. A Etnomatemática é uma excelente
didática e é, sobretudo, um excelente caminho para levar os jovens a gostar da
Matemática, percebendo-a!
O desenvolvimento da
Etnomatemática está intimamente ligado ao trabalho de Paulus Gerdes, diria
mesmo que se confundem. Este reputado Professor Moçambicano, já falecido, fundador da
Universidade Pedagógica e uma referência mundial na Matemática.
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