O filósofo
grego Aristóteles (384 a. C. - 322 a. C.) é considerado, por muitos, o Pai da
Biologia, visto que foi um dos primeiros a estudar e classificar seres vivos. Já
o padre e filósofo natural italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799) é
frequentemente apontado como um dos primeiros a realizar trabalhos de Biologia
Experimental, pelas atividades experimentais que conduziu ao longo da sua vida.
Quanto à
Biologia Moderna, esta surgiu principalmente com as teorias do naturalista
britânico Charles Darwin (1809-1882), sobre a origem das espécies por meio da
seleção natural, e com as descobertas do monge e naturalista austríaco Gregor
Mendel (1822-1884), relacionadas com as leis da hereditariedade. Nessa mesma
época, começaram a ser conduzidas atividades experimentais mais arrojadas,
pioneiras da Biologia Experimental Moderna. De entre as primeiras, talvez se
possam destacar aquelas realizadas pelo médico francês Claude Bernard
(1813-1878) e pelo cientista francês Louis Pasteur (1822-1895).
Em
Portugal, um dos responsáveis pela introdução da Biologia Experimental Moderna
foi o médico holandês Nicolau van Uden (1921-1991), que esteve em Moçambique em
1959.
Nicolaas
(Nicolau) Johannes Maria van Uden nasceu na cidade de Venlo, na Holanda, a 5 de
março de 1921. Depois de terminar o liceu, com notas muito altas, na sua cidade
natal, van Uden ingressou na Universidade de Viena, onde viria a concluir a
licenciatura de Medicina. Durante este período, iniciou a prática de
investigação científica num laboratório de Dermatologia, com base na qual
publicou artigos sobre agentes patogénicos humanos e animais, com especial
ênfase no agente causador da sífilis.
Foi na
capital austríaca que, em 1945, conheceu D. Maria Adelaide de Bragança
(1912-2012), com quem viria a casar no mesmo ano. Ambos comungavam do desejo de
irem para África, com o intuito de prestar apoio social e médico às populações
daquele continente, em particular em Moçambique. Em 1948, o casal resolveu
mudar-se para Portugal. Durante os primeiros dois anos no nosso país, van Uden
estava, duas vezes por semana, num laboratório do Instituto de Higiene e
Medicina Tropical, onde tinha de manter a coleção de culturas e ajudar nos
isolamentos. Durante este período, desenvolveu um estudo sobre as pulgas em
humanos.
Uma vez que o
diploma do curso de Medicina que van Uden tinha concluído na Universidade de
Viena não era reconhecido em Portugal, viu-se obrigado a completar uma nova
licenciatura, tendo-se depois especializado em medicina tropical e em
dermatologia.
Em 1950,
iniciou uma secção de Micologia Médica no Departamento de Micologia do
Instituto de Botânica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. A
investigação aqui produzida levou à identificação de dezenas de novas espécies
de leveduras e à publicação de vários artigos científicos. Em 1952, iniciou a
Coleção Portuguesa de Cultura de Leveduras.
Em 1959, fez
uma viagem a Moçambique, onde permaneceu nove meses, dedicando-se ao
levantamento de doenças e à vacinação de pessoas. Foi também neste país que
recolheu amostras que lhe permitiram descrever e analisar leveduras intestinais
do microbioma de animais domésticos (como cabras e porcos) e de animais
selvagens (como hipopótamos e babuínos). Por esta altura, passou a ser
conhecido como um especialista em três áreas: Taxonomia de Leveduras, Micologia
Médica e Veterinária, e Microbiologia Marinha.
Através da
investigação científica levada a cabo por si e pelos seus colaboradores, na
década de 1960, no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, van Uden foi um
dos responsáveis pela emergência da Biologia Experimental Moderna em Portugal.
Em 1969, van
Uden iniciou um programa internacional de cursos monográficos intensivos de
pós-graduação, que sempre dirigiu, e que viria a influenciar o rumo da ciência
e do ensino em Portugal: os Estudos Avançados de Oeiras. Foi com estes cursos
que novos métodos de investigação científica e de ensino foram sendo
introduzidos, na área das ciências da vida, em várias instituições de ensino
superior, não só em Portugal, como noutros países.
No
final de 1974, van Uden defendeu a sua tese de Doutoramento na Universidade de
Coimbra, em Genética Molecular. Faleceu no seu laboratório, em Oeiras, a 5 de
fevereiro de 1991, poucos dias antes de completar 70 anos.
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