quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Aprender a estudar

Estudar não é só ler nos livros
que há nas escolas.
É também aprender a ser livres,
sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante,
às vezes, urgente,
mas os livros não são o bastante
para a gente ser gente.
É preciso aprender a escrever,
mas também a viver,
mas também a sonhar.
É preciso aprender a crescer,
aprender a estudar.
Aprender a crescer quer dizer:
Aprender a estudar, a conhecer os
outros a ajudar os outros,
a viver com os outros.
E quem aprende a viver com os outros,
aprende sempre a viver bem consigo próprio.
Não merecer um castigo é estudar.
Estar contente consigo é estudar.
Aprender a terra, aprender o trigo
e ter um amigo também é estudar
Estudar também é repartir
também é saber dar
o que a gente souber dividir
para multiplicar.
Estudar é escrever um ditado
Sem ninguém nos ditar;
E se um erro nos for apontado
é sabê-lo emendar.
É preciso, em vez de um tinteiro,
ter uma cabeça que saiba pensar,
pois, na escola da vida,
primeiro está saber estudar.
Contar todas as papoilas de um trigal
é a mais linda conta de somar
que se pode fazer.
Dizer apenas música,
quando se ouve um pássaro,
pode ser a mais bela redação do mundo...
Estudar é muito
Mas pensar é tudo!

 Ary dos Santos (1937-1984)  

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(José Carlos Pereira Ary dos Santos (Lisboa, 7 de Dezembro de 1937 — Lisboa, 18 de Janeiro de 1984) foi um poeta e declamador português.)

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

SENTIR.COM - Exposição interactiva C&T











Composta por dez módulos interactivos que, num conjunto coerente!e de forma apelativa e lúdica, permitem a familiarização com os fundamentos científicos de várias formas de comunicar, em relação com os 5 sentidos.

Uma exposição interactiva itinerante que se destina ao público escolar, mas está também adequada ao público adulto, fomentando o diálogo à volta da Ciência.
Pode visitar a Exposição no Museu de História Natural, Maputo, Moçambique.

Comunicação visual
  1. Módulo em que se explora a emissão e a detecção de radiações ultravioletas, visíveis e infravermelhos, em relação com todo o espectro electromagnético. Efeitos de luz polarizada, na gama do visível. Relações tecnológicas com a transmissão electromagnética dos nossos dias e com a comunicação visual no mundo animal.
  2. Módulo em que se usam filtros, em relação com o fenómeno da cor e com a visão quer no homem quer noutros animais.
  3. Módulo em que se usam lentes e olhos simulados, numa introdução à física e fisiologia da imagem nos olhos dos vertebrados e noutros animais. Defeitos de visão, máquina fotográfica e outras aplicações.
Comunicação sonora
  1. Módulo sobre a natureza dos sons, infra sons e ultrasons, em estreita relação com a comunicação entre animais. Relações tecnológicas.
  2. Módulo sobre as relações entre a música e a matemática, duas linguagens universais.
  3. Módulo em que se usa um ouvido simulado, numa introdução à fisiologia da audição nos humanos e noutros seres. O meio material e a transmissão do som.
Comunicação táctil
  1. Módulo sobre sensações tácteis em geral, incluindo a sensação de dor e as sensações de frio e quente.
  2. Módulo sobre o código de Braille e relações com outros códigos de comunicação, em especial o código binário e suas aplicações tecnológicas.
Comunicação química
  1. Módulo sobre a química e a biologia do cheiro nos humanos. Relações com comunicação e orientação noutros animais. Percepção de riscos.
  2. Módulo sobre o gosto, com identificação de sabores e interacção com o sentido do olfacto.
... com Soraia Amaro.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Roer as unhas faz muito bem... salva os rinocerontes!

“Não roas as unhas!”, quem é que não ouviu esta advertência? Todos nós em algum momento das nossas vidas. Para evitar este vício desenvolveram-se vernizes, que dão mau sabor para evitar esta relaxante actividade. Mas a verdade é algo que vai passando de geração em geração e não parece querer desaparecer da “ecologia alimentar”. Mas porquê roer as unhas? Um dos motivos mais apontado é uma manifestação de ansiedade, mas na verdade é mais um hábito sem grandes consequências para a evolução da Humanidade, mas que pode salvar uma espécie da extinção.
Foto: South African Department of Environmental Affairs

Muito recentemente surgiu um facto que talvez ajude a contextualização desta actividade e que de alguma forma pode levar à compreensão da mesma. Mas para isso temos que falar de uma outra espécie… o rinoceronte.

No Mundo existem cinco espécies de rinocerontes, duas em África e as restantes na Ásia. Em África existe o rinoceronte branco e o rinoceronte negro. Não vamos explicar agora as diferenças entre eles mas que fique claro que nada têm que ver com a cor.

As populações de rinocerontes vivem em permanente ameaça de extinção, ameaça esta que se estende a todas as espécies que têm de conviver com o ser humano na Terra. Mas é nos últimos anos que o fantasma da extinção tem assombrado mais este imponente mamífero.

Desde 2008 que se vem assistindo a uma desenfreada perseguição a esta espécie com um único objectivo – retirar-lhe o seu corno. O interesse vem da parte da medicina tradicional chinesa que o usa para tratar algumas doenças: febres, reumatismo, gota, dores de cabeça e até febre tifóide. Ao contrário do que as pessoas pensam a questão o efeito afrodisíaco não está na bula do corno de rinoceronte.

Mais recentemente este pseudo-medicamento foi alvo de uma enorme procura em países Asiáticos, como o Vietname e que acrescentaram à lista de tratamentos as ressacas e as doenças terminais. É caso para dizer que a dor de cabeça de uns é a morte de outros. Sendo que a humanidade não se livra das dores de cabeça e os rinocerontes vão desaparecer da face da Terra. Este último facto causa de facto muitas dores de cabeça!

Mas é aqui que entra a questão das unhas. O material com que é feito o corno de rinoceronte é em grande parte de uma proteína chamada queratina, mais alguns sais de cálcio que lhe dá a dureza e melanina que protege dos raios UV. Ora nós, seres humanos, também temos queratina... e muita! Adivinhem onde? A queratina é o material de que são feitas as unhas e o cabelo.

A ser verdade o que se disse anteriormente sobre o corno de rinoceronte, roer as unhas fazia desaparecer qualquer dor de cabeça e sabe-se lá que mais! Infelizmente está comprovado cientificamente que o uso do corno de rinoceronte para curar o quer que seja é apenas uma ilusão! A queratina, do corno de rinoceronte e das nossas unhas, não tem nenhum efeito na saúde humana. Mas é como tudo na vida, quando uma pessoa acredita muito… o chamado efeito placebo.

Por isso, quando se vê alguém a roer as unhas, a comer o cabelo ou, em menos casos, a roer os cascos de um cavalo, que também são feitos de queratina, é apenas por puro prazer!

A ideia criada em torno do uso do corno de rinoceronte para aliviar as dores de cabeça após uma longa noite de farra, tem como consequência a morte de mais de 3500 rinocerontes, desde 2008, só na África do Sul. E mais assustador ainda é que esta perseguição tem aumentado ano após ano.

Talvez a dor de cabeça maior seja verdadeiramente a perda de uma espécie majestosa por causa de um mito. Pensem bem, já existem soluções baratas para tratar as dores e cabeça e os excessos de uma noite de farra, mas se acreditar mesmo que a queratina é a solução, então roa as unhas! E todos vamos dizer “roer as unhas faz muito bem… salva os rinocerontes!”.



com Nuno Negrões – Biólogo, Investigador e Divulgador de Ciência