quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Olhar para lá do céu com o SKA

O Square Kilometre Array (SKA) é um projeto de ciência e engenharia que pretende construir o maior radiotelescópio do mundo e que só é possível graças ao esforço de muitos para a sua construção. Trata-se de um radiotelescópio com um quilómetro quadrado, ou seja, um milhão de metros quadrados (1.000.000 m2) sendo que este projecto representa um grande avanço ao nível da tecnologia e da investigação, e, sem dúvida promove o desenvolvimento. Implica a construção de um instrumento único, que necessitou de uma concetualização detalhada e um período de preparação, que está neste momento a decorrer.
Sendo um dos maiores empreendimentos científicos da história da humanidade, o SKA convoca os mais conceituados cientistas e engenheiros, assim como os políticos, de modo a materializar todo o projecto em tempo útil.
O SKA irá recorrer a centenas de milhares de radiotelescópios, dispostos em três configurações diferentes, que vão permitir aos astrónomos monitorizar o céu com um nível de detalhe nunca antes alcançado. Vamos ter a capacidade de rastrear o céu milhares de vezes mais rapidamente do que se recorressem a qualquer outro sistema actual.
As antenas irão ocupar áreas estratégicas em África e na Austrália. No deserto Karoo, na África do Sul, serão colocadas antenas de média e de alta frequência. Na região de Murchison, na Austrália, irão ser dispostas antenas de baixa frequência bem como o sistema de rastreio celeste.
Estas antenas e este sistema de rastreio vão proporcionar uma oportunidade para observações únicas, ultrapassando a qualidade da resolução de imagem do Telescópio Espacial Hubble em cerca de 50 vezes. Irá ser possível fazer a análise de enormes áreas do céu em paralelo, um feito que nenhum outro telescópio conseguiu atingir em tamanha escala e com tanta sensibilidade.
A par de tudo isto estão a ser preparados, para serem lançados no espaço, grandes telescópios ópticos e infravermelhos que, trabalhando em conjunto com o SKA, vão certamente proporcionar novas descobertas científicas. É todo um Mundo novo que desvenda aos nossos olhos!
A escolha dos locais para a colocação das antenas não é de todo aleatória. Estes locais foram apontados cientificamente e tecnicamente e pelo facto de serem zonas desérticas ou muito pouco povoadas. Esta decisão teve em conta as condições atmosféricas sobre os desertos, savanas, até à ausência de transmissões rádio. Por outro lado, o céu visto do Hemisfério Sul é muito mais rico em objectos cósmicos que o céu do Hemisfério Norte, por isso os grandes observatórios mundiais têm registado uma grande apetência para se instalaram do lado de cá do Equador.
E aqui entra Moçambique. Na primeira Fase, o SKA será instalado na África do Sul e na Austrália. Mas a ciência necessita que este primeiro SKA se torne muito maior para captar os sinais da imensidão cósmica mais distante. E assim, o SKA será expandido na segunda fase, para mais de 2.000 antenas, espalhadas pelos Países Africanos Parceiros do SKA, como Moçambique,  Namibia, Botsuana, Zâmbia, Quénia, Madagáscar, Maurícias e  Gana. Será uma grande rede de telescópios, que formarão um único telescópio continental Africano.
Esta é a maior infraestrutura científica do mundo, capaz de produzir 100 vezes mais informação que toda a Internet hoje em dia e usando duas vezes o diâmetro da Terra em fibra óptica. Estará assim criada uma grandiosa estrutura científica à escala planetária.
Em Moçambique vão ser colocadas várias antenas na Província de Manica e em Tete, sendo que esta colocação de antenas representa uma oportunidade ímpar para Moçambique desenvolver as suas empresas de construção civil, de telecomunicações e obviamente as Universidades. Nas Universidades esta pode ser uma alavanca para a Investigação a vários níveis. Moçambique fica assim com uma plataforma de formação avançada, internacional,  que promove sinergias entre as várias Engenharias com as Ciências.
O SKA demonstra que a Ciência não tem fronteiras e através da observação do espaço por via da observação astronómica será capaz de redefinir o nosso entendimento do espaço tal como o conhecemos actualmente. O SKA irá desafiar a Teoria da Relatividade do Einstein, verificar como é que se formaram as primeiras estrelas e galáxias logo após o big bang, ajudar os cientistas a compreender a misteriosa energia negra e os vastos campos magnéticos que principiam no cosmos e ainda esclarecer se estamos ou não sozinhos no Universo.
Na verdade tudo isto representa uma oportunidade que não deve ser desperdiçada. A face da Investigação e da Ciência em Moçambique pode mudar se soubermos olhar o céu com olhos de ver!

(co-autoria com Domingos Barbosa, Investigador em Radioastronomia., Universidade de Aveiro)

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