O Square Kilometre Array (SKA) é um projeto de ciência e engenharia que pretende construir o maior radiotelescópio do mundo e que só é possível graças ao esforço de muitos para a sua construção. Trata-se de um radiotelescópio com um quilómetro quadrado, ou seja, um milhão de metros quadrados (1.000.000 m2) sendo que este projecto representa um grande avanço ao nível da tecnologia e da investigação, e, sem dúvida promove o desenvolvimento. Implica a construção de um instrumento único, que necessitou de uma concetualização detalhada e um período de preparação, que está neste momento a decorrer.
Sendo um dos maiores empreendimentos científicos da
história da humanidade, o SKA convoca os mais conceituados cientistas e
engenheiros, assim como os políticos, de modo a materializar todo o projecto em
tempo útil.
O SKA irá recorrer a centenas de
milhares de radiotelescópios, dispostos em três configurações diferentes, que
vão permitir aos astrónomos monitorizar o céu com um nível de detalhe nunca
antes alcançado. Vamos ter a capacidade de rastrear o céu milhares de vezes
mais rapidamente do que se recorressem a qualquer outro sistema actual.
As antenas irão ocupar áreas
estratégicas em África e na Austrália. No deserto Karoo, na África do
Sul, serão colocadas antenas de média e de alta frequência. Na região
de Murchison, na Austrália, irão ser dispostas antenas de baixa
frequência bem como o sistema de rastreio celeste.
Estas antenas e este sistema de
rastreio vão proporcionar uma oportunidade para observações únicas,
ultrapassando a qualidade da resolução de imagem do Telescópio Espacial Hubble
em cerca de 50 vezes. Irá ser possível fazer a análise de enormes áreas do
céu em paralelo, um feito que nenhum outro telescópio conseguiu atingir em tamanha
escala e com tanta sensibilidade.
A par de tudo isto estão a ser
preparados, para serem lançados no espaço, grandes telescópios ópticos e
infravermelhos que, trabalhando em conjunto com o SKA, vão certamente
proporcionar novas descobertas científicas. É todo um Mundo novo que desvenda
aos nossos olhos!
A escolha dos locais para a
colocação das antenas não é de todo aleatória. Estes locais foram apontados
cientificamente e tecnicamente e pelo facto de serem zonas desérticas ou muito
pouco povoadas. Esta decisão teve em conta as condições atmosféricas sobre os
desertos, savanas, até à ausência de transmissões rádio. Por outro lado, o céu
visto do Hemisfério Sul é muito mais rico em objectos cósmicos que o céu do
Hemisfério Norte, por isso os grandes observatórios mundiais têm registado uma
grande apetência para se instalaram do lado de cá do Equador.
E aqui entra Moçambique. Na
primeira Fase, o SKA será instalado na África do Sul e na Austrália. Mas a
ciência necessita que este primeiro SKA se torne muito maior para captar os
sinais da imensidão cósmica mais distante. E assim, o SKA será expandido na
segunda fase, para mais de 2.000 antenas, espalhadas pelos Países Africanos
Parceiros do SKA, como Moçambique, Namibia, Botsuana, Zâmbia, Quénia, Madagáscar,
Maurícias e Gana. Será uma grande rede
de telescópios, que formarão um único telescópio continental Africano.
Esta é a maior infraestrutura científica
do mundo, capaz de produzir 100 vezes mais informação que toda a Internet hoje
em dia e usando duas vezes o diâmetro da Terra em fibra óptica. Estará assim
criada uma grandiosa estrutura científica à escala planetária.
Em Moçambique vão ser colocadas
várias antenas na Província de Manica e em Tete, sendo que esta colocação de
antenas representa uma oportunidade ímpar para Moçambique desenvolver as suas
empresas de construção civil, de telecomunicações e obviamente as
Universidades. Nas Universidades esta pode ser uma alavanca para a Investigação
a vários níveis. Moçambique fica assim com uma plataforma de formação avançada,
internacional, que promove sinergias
entre as várias Engenharias com as Ciências.
O SKA demonstra que a Ciência não
tem fronteiras e através da observação do espaço por via da observação
astronómica será capaz de redefinir o nosso entendimento do espaço tal como o
conhecemos actualmente. O SKA irá desafiar a Teoria da Relatividade do
Einstein, verificar como é que se formaram as primeiras estrelas e galáxias
logo após o big bang, ajudar os cientistas a compreender a misteriosa energia
negra e os vastos campos magnéticos que principiam no cosmos e ainda esclarecer
se estamos ou não sozinhos no Universo.
Na verdade tudo isto representa
uma oportunidade que não deve ser desperdiçada. A face da Investigação e da
Ciência em Moçambique pode mudar se soubermos olhar o céu com olhos de ver!
(co-autoria com Domingos Barbosa, Investigador em Radioastronomia., Universidade de Aveiro)
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