terça-feira, 22 de maio de 2018

De onde vêm os Profissionais da Ciência do futuro?


Os profissionais das Ciências, Tecnologia, Ciências Naturais e Matemática (CTEM), e vamos aqui falar apenas das Ciências Naturais, não nascem de geração espontânea, são fruto de um trabalho de muita gente que trabalha diariamente para que uma nova geração de profissionais destas áreas se desenvolva nas nossas Escolas. 

Da leitura do relatório anual da OCDE (Education at a Glance 2017), retiramos o seguinte gráfico:






Uma análise rápida percebe-se que não existem Países Africanos neste gráfico pode ser porque se tratam apenas de Países da OCED e parceiros desta organização. O gráfico merece uma leitura cuidada e para que se entenda melhor estamos a falar das TIC, Ciências Naturais, Matemática e Estatística e por fim a Engenharia e a Construção, e a percentagem que ocupam nos diferentes países.

A questão que importa discutir é o esforço que estes países estão a fazer de uma forma concertada para atingirem estes valores. Certamente que operaram profundas alterações curriculares e um olhar diferente sobre a CTEM. Mas foi sobretudo o envolvimento de toda a sociedade e a mudança de mentalidade.  As empresas sabem que se quiserem sobreviver no futuro têm que investir no capital humano e que os seus funcionários têm de ser preparados e formados para trabalhar em ambientes novos e muitos deles ainda por descobrir. 

A aliança estabelecida entre as Universidades e as Empresas está hoje a dar os seus frutos. Um caminho que não foi fácil de percorrer.

Em Moçambique, um País em que o sistema de "educação para todos" tem pouco mais de 40 anos, a Educação é hoje obrigada a dar passos de gigante para tentar acompanhar ritmos de crescimento populacionais incrivelmente grandes. 

Os desafios são muitos e muito exigentes. Mas na Educação não há prioridades – tudo é necessário, tudo é urgente, para não hipotecar o futuro de milhões de jovens que têm que encontrar trabalho e trabalhar como em qualquer parte do Mundo.

A CTEM, é essencial para que o desenvolvimento ocorra, precisa de mais programas que levem a Ciência até junto das pessoas – escolas, empresas e universidades. É preciso entender que todos têm que trabalhar juntos para mudar mentalidades. A par do investimento em equipamentos é necessário um investimento ainda maior no capital humano para que a Educação possa transformar as pessoas.

Os profissionais da CTEM também virão de Moçambique. Não tenho dúvida disso.
Juntos pela Educação. 


OECD (2017), Education at a Glance 2017 : OECD Indicators (Summary in Portuguese), OECD Publishing, Paris, http://dx.doi.org/10.1787/8d2d11b2-pt.


segunda-feira, 7 de maio de 2018

Conhecimento, Desenvolvimento e Inovação

Falar de Conhecimento, Desenvolvimento e Inovação é conversar sobre o futuro. As nossas Escolas, todas elas, seja qual for o grau de ensino, estão transformadas em grandes fontes de informação. Temos muitas dificuldades em fazer ensino experimental ou de campo, onde os alunos são levados a descobrir e tirar as suas conclusões em face da realidade, isto é, a produzirem Conhecimento. Mas nem tudo acontece na Escola e temos hoje ao nosso alcance fontes de informação aparentemente inesgotáveis.

O aspecto mais desafiante do Mundo em que vivemos é como transformar tanta Informação em Conhecimento? Nem toda a Informação que recebemos é importante e é preciso algum conhecimento para separar o que é verdadeiramente importante, do que é simplesmente descartável. Mas a sociedade não se faz à nossa medida e somos nós que temos de escolher!

Já a Inovação comporta vários desafios e muitas competências, das quais gostaria de destacar a Criatividade. Se fosse possível ensinar alguma coisa relevante para o futuro seria como ser Criativo!

É neste cenário de dúvida constante e consistente que vamos falar no próximo seminário do ISCTEM. - Conhecimento, Desenvolvimento e Inovação.

Estão convidados.






quarta-feira, 2 de maio de 2018

Orlando Machango


Nem sempre as notícias são agradáveis. Escrever sobre um amigo que faleceu não é uma notícia e um acto de justiça.

Orlando Machango, era um Professor de Matemática que faleceu recentemente. Tive o gosto de o entrevistar, em 2017, para o trabalho de observação "sobre as causas que impedem o sucesso nas ciências e em matemática no ensino secundário" (Vídeo) colaborou neste trabalho com a generosidade e a paixão que tinha pela Matemática e o seu Ensino.

Além de um excelente profissional era um entusiasta do movimento olímpico preparando os alunos moçambicanos para as suas participações internacionais nas olimpíadas de matemática. Colaborei com ele e sou testemunha da sua dedicação.

Era também o rosto da telescola, programa que é transmitido na TVM e que ajuda os alunos na resolução de exercícios e problemas, com uma coragem e uma experiência de muitos anos a ensinar, ele resolvia os exercícios e os problemas de matemática em directo.

Era um homem discreto, um homem bom e um bom amigo.

Moçambique está mais pobre! Eu estou mais pobre, perdi um amigo.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Comunicar Ciência: porquê, para quê e para quem?


O Mundo está diferente. Nunca em outro momento, o nosso planeta sustentou 7 mil milhões de pessoas. O Professor Doutor Nuno Empadinhas, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, descreveu este facto, no World Health Summit Regional Meeting 2018, em Coimbra, como um dos factores  que contribui para uma tempestade perfeita.  





Esta tempestade tem vários pontos de vista. Hoje, vou apenas focar a tempestade do ponto de vista da Saúde e dos problemas associados. Não obstante os esforços feitos para combater doenças tais como a Malária, Tuberculose e o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), a verdade é que o número de pessoas afectadas nos países africanos não pára de aumentar. Este facto leva-nos a pensar que algo na estratégia adoptada até agora está a ser insuficiente. 


Em Moçambique, a Malária, as doenças respiratórias, o VIH/SIDA, e a diarreia, são exemplos das doenças que atingem fortemente a população. Pegando no caso específico do VIH, 29 milhões de pessoas estão infectadas. A prevalência nacional de VIH está estimada em cerca de 13%. Este facto contribuiu por um lado para a redução da esperança média de vida para 55 anos, e por outro lado, contribuiu para o aparecimento de 2 milhões de órfãos, dos quais 900.000 são filhos de pais com SIDA. Apesar deste cenário pouco animador, foram feitos progressos. Em Março de 2016, Moçambique iniciou o tratamento para todos os pacientes com níveis de CD4 <500, e implantou medidas que permitem aos pacientes uma maior flexibilidade no tratamento, muitas vezes dificultado pelas longas distâncias que os pacientes têm de percorrer para receber o dito tratamento. Contudo, estas medidas (ainda bem que existem!!) são dirigidas a um problema já instalado. Teremos de fazer um esforço bem maior para PREVENIR estas doenças, e é aqui que a Comunicação de Ciência pode e deve ter um papel preponderante, reforçando o processo educativo dos indivíduos. 



Assim, urge a necessidade comunicar a Ciência associada à prevenção e ao tratamento destas doenças, e traduzir as descobertas feitas pelos cientistas, para que a população em geral, e não apenas nichos de população, possa ser esclarecida. É aqui, neste processo de comunicação/educação, que reside o verdadeiro desafio, uma vez que, por vezes não é fácil traduzir para uma linguagem corrente as descobertas feitas. Mas esse é o caminho, se queremos um maior impacto das medidas aplicadas em cada país! Temos de agir a montante do problema, e para isso tem de ser feito um esforço para educar a população, disponibilizando-lhe informação cientificamente correcta, mas apresentada de uma forma suficientemente simples para que até o cidadão menos letrado possa entender o que está a ser transmitido. 

Se não conseguirmos chamar a atenção, e acima de tudo manter essa atenção, da população para problemas que directamente a afecta, pouco sucesso terão as medidas tomadas no combate às doenças. Todos reconhecemos a impossibilidade de abarcar toda a população, ou todos os seus problemas. Regressemos então à base, e foquemo-nos na Educação.


Fig 2. Guerret Macnamara, na Nazaré, Portugal


Apesar de termos reunidas condições para uma tempestade perfeita, esperamos ter também reunidos um grupo de "surfistas" que nos ajudarão a ultrapassá-la!

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Química sem laboratório



Não é todos os dias que assistimos ao lançamento de um livro sobre Comunicação de Ciência em Moçambique. O livro Química Sem Laboratório da autoria de Tatiana Kuleshova e Filomena Neves Silva, editado pela Texto Editores, começa a fazer o seu caminho no difícil mercado de Moçambique.

Na verdade trata-se não de um, mas de dois livros - um para a professor e outro para o aluno. A ideia começou com a divulgação de resultados de experiências de Química usando material local realizadas no Departamento de Química na Universidade Pedagógica - Delegação  da Beira e publicadas no Jornal Diário de Moçambique. 

Neste Jornal foram publicadas experiências de química sobre a observação de fenómenos, tais como, a electrolise, extracto de plantas  como indicadores ácido-base, ...

O Diário de Moçambique, publicou entre os anos 1999-2000, estas experiências com o título - Ajuda ao Professor. Os artigos publicados despertaram grande interesse nos professores da Província Sofala. Estes começaram a reproduzir as experiências em sala de aulas da disciplina de Química explorando os materiais que tinham em casa, já que não tinham reagentes químicos ou mesmo um laboratório de Química.

Em 2003, a autora começa a trabalhar na Universidade Eduardo Mondlane no Departamento de Química e inicia um trabalho mais didáctico com as escolas da Cidade de Maputo, os professores reagiram com o mesmo entusiasmo. 

Mais tarde surge a ideia de escrever os dois livros: um livro para aluno, onde estão descritas as experiências e colocadas as perguntas e o livro do professor, onde além das  experiências surgem também as respostas.

É um livro que pode ser usado por todos! Dentro e fora da sala de aula!
Experimentem!

quinta-feira, 22 de março de 2018

Por que nos devemos preocupar com a àgua?



Um texto de Saquina Rugunate, docente e investigador do ISCTEM, 
a propósito do Dia Mundial da Água.

A água é a condição essencial de vida de todo o ser vegetal, animal e humano, e por isso, pode-se dizer que o equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e dos seus ciclos, e é obrigação de todos abraçar esta causa.

Foi nesta perspectiva, que a 22 de Março de 1992, a ONU (Organização da Nações Unidas), criou o dia mundial da água, e anualmente várias actividades são realizadas para consciencializar as pessoas, sobre a importância deste bem, assim como para a tomada de medidas para reduzir o impacto da sua escassez.

Pode-se tomar como exemplo a Cidade do Cabo na África do Sul, onde o nível dos reservatórios de água estão muito abaixo dos níveis normais, obrigando a um consumo diário de 50 L de água por pessoa, como forma de evitar medidas drásticas , tal como o “dia zero” que poderá ser nos meados de Abril... agora imaginemos o que é viver no dia a dia apenas com essa quantidade de água e o quão limitadas ficam as actividades diárias!

Se paramos para pensar, como seria catastrófico, ter a cidade de Maputo nessa situação, e o impacto que teria na saúde pública colectiva, levando em conta o precário sistema de saúde e o fraco saneamento do meio, apesar dos inúmeros esforços feitos pelo nosso governo e por algumas organizações que apoiam esta causa. De facto, o nível de água na Barragem dos Pequenos Libombos é baixo, tendo obrigado que o Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG), tivesse que adoptar medidas drásticas alternando os dias de abastecimento de água, com redução significativa das horas de abastecimento.

Segundo o director-geral da FIPAG, o défice actual é de 110.000m3/dia para o fornecimento da água na Região do Grande Maputo, e tendo em conta que a próxima época chuvosa começa em Outubro, há realmente a necessidade de um uso racional de água para evitar cenários mais complicados que o actual.

A OMS recomenda o consumo de 40Lde água por pessoa, e pequenas mudanças no quotidiano individual devem ser consideradas (tais como reutilização de águas residuais, redução do consumo doméstico e industrial), realização de campanhas nas comunidades sobre algumas medidas práticas de como reduzir o consumo e conservar de forma adequada. 

Alguns munícipes recorre, a alternativas como o uso de fornecedores privados, abertura de furos, aumento do número de reservatórios, mas é também importante ter atenção a qualidade da água consumida, pelo risco de desencadearem doenças como a cólera, hepatite, gastroenterites, parasitóses, entre outras.

Vamos todos mudar a nossa atitude. 

Vamos imaginar como seria o nosso dia a dia sem este precioso líquido!

segunda-feira, 19 de março de 2018

Capacidade X Oportunidade





Escola Secundária da Matola

Por Soraia Amaro



Li, há pouco tempo, uma compilação de textos sobre racismo e colonialismo num website de um projecto jornalístico português. Um projecto de 2016 que só agora conheci. Comecei, por razões óbvias, pela página dedicada a Moçambique. Muita coisa interessante sobre como um passado colonial continua a condicionar as relações sociais e de poder, muitas opiniões distintas, numa abordagem mais de “dar voz” do que de analisar, mas sempre válida.

Trabalho de perto com o sector da Educação, nos seus vários graus de ensino, e talvez por isso mesmo uma passagem destas entrevistas ficou-me na cabeça.

Uma das entrevistadas dizia: 
No meu antigo local de trabalho, pedi demissão sabendo que queria agarrar outra oportunidade. E o chefe disse: ‘Sabes que é muito difícil para nós encontrar quadros moçambicanos de qualidade como tu.’ Para ele, aquilo era um elogio. Mas eu senti-me ofendida porque na cabeça dele não existem moçambicanos com capacidade.”

Uma jovem que, como a autora do texto indica, "faz parte de uma geração de moçambicanos que estudou fora e viajou", mostra-se ofendida por um empregador lhe dizer que é muito difícil encontrar quadros moçambicanos de qualidade.
É provável que os grupos onde se move sejam constituídos por jovens que tiveram acesso a oportunidades semelhantes, de formação no exterior, de experimentar outros mercados de trabalho e ver outras realidades. E talvez por isso esta entrevistada se esqueça, por momentos, que essa não é a maioria.

Vivemos num país que conta, após o arranque lectivo de 2018, cerca de sete milhões de alunos no Sistema de Ensino. Sete milhões. E a maioria destes sete milhões não tem acesso a este tipo de oportunidade que, pasmem-se, custa dinheiro.

A maioria dos jovens tem acesso a um sistema educativo muito frágil onde, em alguns distritos, até o acesso ao livro escolar é um luxo. A maioria dos jovens passa 12 anos num sistema educativo com professores mal remunerados e extremamente desmotivados, que se desdobram entre o público e o privado para conseguir ter um salário melhor. A maioria dos jovens divide a sua carteira com mais dois colegas, quando a escola tem carteiras. A maioria dos jovens assiste a aulas meramente descritivas, copia a matéria do quadro e nunca realizou uma actividade experimental.

Podemos continuar: a maioria dos jovens desaparece do sistema educativo na passagem para o Ensino Secundário. Os que persistem, tendem a aglomerar-se nas escolas das capitais de província, que podem chegar a ter sete ou oito mil alunos. Nestas mesmas escolas, as suas turmas podem ter 60 ou mais alunos, e os professores vão correr para dar toda a matéria que têm para dar, que não foi ajustada aos tempos lectivos quando estes tiveram de emagrecer para encaixar novas disciplinas. E sim, é possível que um aluno complete a 12ª classe sem saber ler e escrever correctamente.

Continuemos: a maioria dos jovens que terminar o Ensino Secundário não vai ingressar na universidade. Os que entrarem, vão ficar a patinar durante vários anos até concluírem o curso. Moçambique tem 50 universidades, entre públicas e privadas, e a média de anos para completar um curso universitário é de o dobro mais dois. Isto significa que um aluno leva até 10 anos para concluir o seu curso. A taxa de graduação é de 7% por ano, de acordo com os dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Tecnico Profissional. Ou seja, em cada 100 alunos que se inscrevem, 7 graduam-se a cada ano. Porquê? Quando um aluno chega ao Ensino Superior, ele já é o resultado de 12 anos de formação num sistema extremamente débil, e terá grandes dificuldades em acompanhar um curso superior complexo.

Mas continuemos: Temos, assim, universidades “cheias” de alunos que demorarão uma média de 10 anos a ingressar no mercado de trabalho. E temos outra realidade ainda: dezenas de universidades a ministrar cursos de “papel e lápis”. A formação em Ciências e Engenharias é uma minoria porque custa muito dinheiro: porque os laboratórios são caros, porque o equipamento é caro, porque as saídas de campo são caras e apenas as universidades públicas investem nisso, dentro das suas possibilidades. É perfeitamente possível que um Geólogo, por exemplo, termine o seu curso superior sem ter feito uma única saída de campo ou ter visto as rochas de que fala fora da vitrine da faculdade.

Por isso, sim, é difícil encontrar quadros moçambicanos com qualidade. E isso não tem, obviamente, a ver com a capacidade dos moçambicanos, como a entrevistada parece ter entendido, mas sim com a qualidade do ensino e das oportunidades de formação a que têm acesso.

E não sou eu quem o diz. A Ordem dos Advogados, por exemplo, aponta um défice de cerca de 2 mil profissionais. Os exames para a Ordem dos Médicos resultam num número absurdo de chumbos.
Nas empresas, o recrutamento é extremamente difícil – e também não sou eu quem o diz. Um exemplo? “A disponibilidade de mão-de-obra qualificada é exígua. Estamos longe de um equilíbrio entre oferta e procura” - Eduardo Madope, gestor de Recursos Humanos da Petromoc. “Os nossos licenciados, maioritariamente Engenheiros Químicos e Mecânicos, demostram pouca habilidade prática. Por exemplo, precisámos de três engenheiros… todos tiveram de fazer estágios em Maputo, Beira e Nacala. Destes, apenas dois ficaram, já que o terceiro não conseguiu estar à altura do que era requerido” - Lampião Bila, chefe da Divisão de Administração de Pessoal da Petromoc.

Então, é importante sairmos da nossa bolha de privilégio para compreender que um jovem que tem a oportunidade fazer formação noutros países e de experimentar outros mercados de trabalho, que tem acesso a um sistema de ensino menos débil e melhor alicerçado em professores mais bem reconhecidos e motivados, que tem acesso a escolas com bibliotecas recheadas e Wifi gratuito, que estuda em universidades com laboratórios bem equipados e docentes qualificados para os usar não pode ser a bitola pela qual se mede a qualidade dos graduados moçambicanos. Porque essa continua a ser uma minoria que ainda não chega para dar resposta às necessidades dos sectores público e privado do país. E, uma vez mais, não falamos de capacidade. Falamos de oportunidade.

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Capacity X Opportunity

I recently went through a compilation of texts on racism and colonialism on the website of a Portuguese journalistic project. A 2016 project that I just met. I started, for obvious reasons, with the page dedicated to Mozambique. A lot of interesting views on how a colonial past continues to condition social and power relations, many different opinions. The approach is more a "giving voice" one, rather than analyzing, but always valid.

I work closely with the education sector, in its various degrees, and perhaps for this reason a passage of these interviews has been buzzing on my mind.

One of the interviewees said:
"In my previous workplace, I resigned to take another opportunity. And the chief said: 'You know that it is very difficult for us to find well qualified Mozambicans like you.' For him, that was a compliment. But I was offended because in his mind there are no Mozambicans with capacity. "

A young woman who, as the author indicates, is part of a generation of Mozambicans who studied abroad and traveled, is offended by an employer who tells her that it is very difficult to find well qualified Mozambican workers.
It is likely that the groups in which she moves are made up of young people who have had access to similar opportunities, studding abroad, experiencing other labor markets and seeing other realities. And maybe that's why this interviewee might forget, at times, that this is not the majority.

We live in a country that counts, at 2018 school start, nearly seven million students in the Education System. Seven millions. And most of these seven million do not have access to this kind of opportunity, which, imagine… costs money.

The majority of young people have access to a very fragile educational system where, in some districts, even access to the school book is a luxury. Most young people spend 12 years in an education system with poorly paid and extremely unmotivated teachers, who run between the public and the private sector in order to earn a better salary. Most young people share their table with two other colleagues - when the school has tables. The majority of the young people attend classes merely descriptive, copy the explanations from the board and never performed an experimental activity.

We can continue: most young people vanish from the education system in the transition to Secondary School. Those who persist, tend to be concentrated in the biggest schools in the capital cities of provinces, which may have seven or eight thousand students. In these same schools, their classes may have 60 or more students, and the teachers will run fast to give all the information they have to give, as curricula has not been adjusted to the class hours, when they had to lose space in order to fit in new disciplines. And yes, it is possible for a student to complete 12th grade without being able to read and write correctly.

But let's continue: most young people who finish high school will not be admitted to university. Those who enter, will be there for several years until they complete the course. Mozambique has 50 universities, between public and private, and the average number of years to complete a university degree is twice plus two. This means that a student takes up to 10 years to complete their course. The graduation rate is 7% per year, according to the data from the Ministry of Science and Technology, Higher Education and TVET. That is, for every 100 students who enroll, 7 graduate each year. Why? When a student arrives at Higher Education, he is already the result of 12 years of training in an extremely weak system, and will have major difficulties with keeping up with a complex course.

But we can continue: We have, therefore, universities “full” of students that will take an average of 10 years to join the labor market. And we have yet another reality: dozens of universities teaching "paper and pencil" courses. Education in science and engineering is a minority because it costs a lot of money: because laboratories are expensive, because equipment is expensive, because field trips are expensive and only public universities invest in it, within their possibilities. It is perfectly possible for a Geologist, for example, to finish his degree without having made a single field trip or seen the rocks he learned about out of the college window.

So, yes, it is difficult to find well qualified Mozambican workers. And this has obviously nothing to do with the capacity of Mozambicans, as the interviewee seems to have understood, but rather with the quality of education and training opportunities to which they have access.

But it’s not me who says it. The Bar Association, for example, mentions a deficit of about 2,000 lawyers. Examinations for the Medical Order result in an absurd number of fails. In business, recruiting is extremely difficult - and I'm not the one who says it either. An example? "The availability of skilled labor is exiguous. We are far from a balance between supply and demand "- Eduardo Madope, manager of Human Resources at Petromoc. "Our graduates, mostly Chemical and Mechanical Engineers, show little practical skills. For example, we needed three engineers ... all had to do internships in Maputo, Beira and Nacala. Of these, only two remained, since the third one could not live up to what was required "- Lampião Bila, head of the Personnel Management Division of Petromoc.


So, it is important for us to get out of our bubble of privilege to understand that a young person who has the opportunity to train in other countries and to experience other labor markets, who has access to a stronger and better education system based on better recognized and motivated teachers, who has access to schools with well-filled libraries and free Wi-Fi, who has studied in universities with well-equipped laboratories and qualified teachers to use them, can not be the scale to measure the quality of Mozambican graduates. Because those remain a minority, that is not enough to fulfill the needs of the public and private sectors of the country. And once again, we are not talking about Mozambicans capacity. We are talking about opportunity.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Stephen Hawking


"Inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança."
Stephen Hawking

O desaparecimento de Stephen Hawking é uma grande perda para a Humanidade. Ficou mais pobre a Ciência. Perdeu um dos grandes cientistas do nosso tempo e um comunicador de ciência.
Será lembrado por muitos motivos. Desde logo pela descoberta de que os buracos negros podem soltar partículas e radiação antes de desaparecerem. Ninguém acreditava, inicialmente, que partículas pudessem sair de buracos negros. "Não estava à procura delas. Apenas tropecei nelas", afirmou Hawking numa entrevista em1978 ao "The New York Times", mais tarde, o Professor de Matemática na Universidade de Cambridge, Hawking, fez parte de uma das mais importantes investigações no ramo da Física, sobre a Teoria de Tudo.  

Seria esta teoria a solução para as contradições entre a teoria geral da relatividade, de Einstein, que descreve as leis da gravidade que determinam o movimento de corpos como planetas, e a teoria da mecânica quântica, que lida com partículas subatómicas. 

Nesta missão quase divina, encontrar a Teoria de Tudo era, para a Humanidade, “conhecer a mente de Deus”.

Anos mais tarde, admitiu que aquela teoria talvez não exista.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

STEM deve ser para todos! / STEM is for everyone!



Vão achar estranho este artigo escrito por um homem, esse ser tão privilegiado no que toca às "bricolages" e às engenharias. Ou até não seja assim tão disparatado de todo escrever um artigo que reconhece que não há diferenças entre géneros, raças ou crenças no que toca a ciência, basta que tenhamos todos a possibilidade de aceder a uma boa formação!

Pois é, tudo isto porque fui desafiado novamente a escrever um artigo sobre algo que começo a pensar que se trata de uma missão, "STEM para todos". Acredito que devemos deixar cair os estigmas de que há trabalhos mais para homens e outros mais para mulheres e depressa... mas os tempos têm dado sinais disso!

Ora vamos então ao exercício que proponho hoje... Quantos de vocês (que estão a perder tempo a ler isto) já estiveram a preencher um formulário e se enganaram? Aquela tinta correctora deu um jeitaço, não foi? Pois essa tinta foi inventada por uma datilografa americana que fez uma fortuna quando vendeu a patente! Já estou a ver a cara surpresa de alguns...

E quantos de vocês já andaram de barco e olharam para os botes salva-vidas e pensaram: "espero que nunca seja preciso..."; mas o que não pensaram mesmo é que foi mais uma mulher que inventou este dispositivo e que até à invenção dela era usada uma tábua de madeira!

E o caixote do lixo com pedal... e a máquina de lavar loiça... e as fraldas descartáveis... e o kevlar (a sério por esta é que não esperavam... não foi um homem? Pois é...)

Querem mais? Então espantem-se, pois o very-light usado nas embarcações foi inventado por uma mulher, que após perder o marido num naufrágio resolveu por as mãos à obra... patenteou a ideia em nome do marido...

Agora quando precisarem de engomar uma camisa (acredito que todos os homens que estão a ler isto, também dão uns toques na tábua de engomar) saibam que a tábua de engomar foi inventada por uma mulher!

Todas as invenções que falei acima foram da responsabilidade de mulheres, algumas afro-americanas, e todas elas enfrentaram estigmas maiores do que os de hoje…

Isto tudo para (assim espero) abrir um pouco o espírito de certas pessoas que, ainda em pleno século XXI, não incentivam as meninas a seguir para as ciências...

Apesar da aposta governamental no Ensino Técnico, vemos que as empresas são relutantes em apoiar as escolas de cariz técnico. Apenas as empresas (algumas…) do ramo o fazem... como se as restantes não precisassem de eletricistas quando têm problemas eléctricos, ou de técnicos de ar condicionado quando este avaria... ou de um mecânico para arranjar o carro quando este se nega a pegar...

Podia continuar a dar exemplos mas acho que já perceberam a ideia!

Para que o STEM seja, efetivamente, para todos, é urgente que as escolas técnicas e as universidades se apliquem mais no incentivo à investigação e no desenvolvimento nestas áreas, tendo noção de que, para mudarmos as mentalidades, temos de formar mais e melhor, investigar mais e melhor e exigir qualidade.

Também é urgente que, politicamente, se mantenha a aposta nos cursos técnicos e científicos e o devido financiamento, porque estes, de facto, não são baratos já que não se conseguem fazer de papel e caneta. A formação teórica é, certamente, importante, mas os cursos tecnológicos serão sempre muito mais caros… É fácil compreender que, da mesma forma que não confiamos a nossa vida a um piloto de avião que voou 10 mil horas no flight simulator... também não podemos confiar os nossos carros, os pc's e servidores das nossas instituições e empresas em técnicos que se limitaram a ler livros e nunca tiveram formação prática de qualidade.

Obrigado e lembrem-se,  STEM é para todos!

PS: Este texto foi revisto por uma mulher extraordinária, que deu o seu toque brilhante e por isso é que ficou tão bem! Obrigado!

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You will find strange, this article written by a man, always so privileged when it comes to DIY and engineering! Or perhaps it is not so crazy to write an article that recognizes that there are no differences between genders, races or beliefs in science, as long as we all have the same access to a good education and training.

All this comes up because I was challenged again to write an article about something that I start to think may be a mission: "STEM for all". I believe we should drop the stigmas that there are jobs for men and jobs for women and fast ... but time are showing signs of this!

Now, let's go to the exercise I propose today ... How many of you (who are wasting time reading this) were filling out a form and made a mistake? That corrective paint did a good job, right? This ink was invented by a women typewriter who made a fortune when she sold the patent! I can imagine the surprise on your faces…

And how many of you have already ridden by boat and looked at the lifeboats and thought, "I hope I never have to ..."; but what you didn’t even think was that it was another woman who invented this device and that until her invention, a wooden board was used!

And the dustbin with pedal ... and the dishwasher ... and the disposable diapers ... and the Kevlar (seriously, you did not expect this one ... sure it was not a man?).

Want more? So be astonished, the very-light used in the vessels was invented by a woman, who after losing her husband in a shipwreck put the hands in work... patented the idea in the name of the husband...

Now when you need to iron a shirt (I think all the men who are reading this also tweak the ironing board) know that the ironing board was invented by a woman!

All the inventions I mentioned above were the responsibility of women, some African Americans, and all of them faced greater stigmas than today.

This is all (I hope) to open a little the spirit of certain people who, even in the XXI century, do not encourage girls in to Sciences ...

Despite the government's commitment to Technical Education, we see that companies are reluctant to support technical schools. Only the companies (some ...) of the technical area do ... as if the rest did not need electricians when they have electrical problems, or air conditioning technicians when this malfunction ... or a mechanic to fix their car when it refuses to start… I could go on giving examples but I think you have already realized the idea!

In order for the STEM to be effectively for all, it is urgent that technical schools and universities do better in encouraging research and development in these areas, bearing in mind that, in order to change our mindsets, we must train more and better, investigate more and better and demand quality.

It is also urgent to continue the political bet in the technical and scientific courses, as well as its funding, because they are in fact not cheap, since they cannot be made of paper and pen. The theoretical training is certainly important, but the technological courses will always be much more expensive... It is easy to understand that, just as we do not entrust our life to an airplane pilot who flew 10 thousand hours in a flight simulator... we cannot trust our cars, PCs and servers of our institutions and companies to technicians who have limited themselves to reading books and have never had quality practical training.

Thank you and remember STEM is for everyone!

PS: This text was reviewed by an extraordinary woman, who gave it a brilliant touch and that's why it turned out so well! Thank you!

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Quem Educa uma Mulher, Educa um Povo!


Em África existe um proverbio que diz “Quem Educa uma Mulher, Educa um Povo”, Esta frase diz muito sobre a presença e a importância das Mulheres nas Comunidades. É esta potencial faceta transformadora da Mulher na Sociedade moçambicana que torna, ainda, mais importante este dia 10 de Fevereiro dedicado à Mulher e às Meninas na Ciência. É necessário fazer uma grande reflexão que resulte num conjunto de medidas concretas para que se melhore a presenças da mulher na Ciência.
Uma pesquisa feita pela ONU, em 14 países, mostrou que a probabilidade de estudantes do sexo feminino obter um diploma de bacharel, mestrado ou doutorado em ciências, ou em áreas correlacionadas, é menos da metade do que se comparado aos homens. A ONU atenta a este problema criou essa data especial para as mulheres tendo em mente mais acesso e participação igualitária das mulheres na ciência.

A Diretora Geral  das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – Unesco – Irina Bokova, afirmou que a Agenda 2030, a que estão associados os Objectivos de Desenvolvimento Sustentáveis, não será alcançada sem o empoderamento das mulheres através da ciência.  A Directora vai mais longe e afirma que "mais do que nunca, hoje o mundo precisa da ciência e a ciência precisa das mulheres".

O último relatório da UNESCO sobre o assunto mostrou que as mulheres representam apenas 28% dos investigadores no mundo e a diferença aumenta ainda mais nos escalões mais altos. Segundo a UNESCO, as mulheres têm menos acesso a investimentos, a redes de estudo e até mesmo a cargos de topo nas empresas, o que as coloca em profunda desvantagem. É necessário que os governos que redobrem os esforços para dar mais poder a meninas e mulheres através da ciência, no sentido de se aproximar das metas da Agenda 2030.

A Osuwela, tem uma visão clara e um plano de acção para o desenvolvimento de recursos humanos nacionais capazes de carregar consigo os desafios da integração das Mulheres na Ciência. Esta assenta no pressuposto fundamental de que são necessários quadros qualificados de ambos os géneros para dar resposta às necessidades actuais e futuras do país.

A Osuwela colabora activamente com o programa “Criando o Cientista Moçambicano do Amanhã”, do MCTESTP, que foi lançado em 2006, e que visa a preparação de jovens estudantes para o prosseguimento dos estudos ou o ingresso no mercado de trabalho, nas áreas de STEM. Estamos conscientes do facto que que o número de alunos que demonstram interesse pelas áreas de STEM tem vindo a decrescer, e isso agudiza-se no caso das meninas, cuja presença em cursos relacionados com estas áreas do saber é ainda menor.

Espera-se que a descriminação positiva das meninas produza resultados a médio e longo prazo, sendo essencial para o equilíbrio social.

A propósito deste tema ouçam a entrevista da Prof. Rosália Vargas à Rádio ONU

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Ciência, Grafeno e os ODS





O antigo Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, apostado em dar um novo impulso a esta organização apresenta o relatório do milénio, “Nós, os Povos, as Nações Unidas do Século XXI”, que posteriormente, é aprovada pelos Chefes de Estado e de Governo e que ficou conhecida como a Declaração do Milénio.

Nesta declaração, um dos temas aborda o “Desenvolvimento e erradicação da pobreza” e daí surgem os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. A ideia era fantástica! Consistia em estabelecer uma parceria entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, tendo em vista o desenvolvimento e a eliminação da pobreza.

Os objectivos, que não eram fáceis de alcançar, eram estes: reduzir a pobreza extrema e a fome; alcançar o ensino primário universal; promover a igualdade de género e o empoderamento das mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e criar uma parceria mundial para o desenvolvimento. Uma ideia fantástica para todos, mas sobretudo para os Países mais pobres.

O mundo está cheio de ideias fantásticas, que não deram resultados! Esta é uma delas.

Só não é de todo verdade, porque acabou por chamar atenção do Mundo para estes problemas mencionados sob a forma de objectivo, mas para problemas ainda maiores que todos vamos ter que enfrentar, como, por exemplo, as questões dos ciclos climáticos que têm tido graves repercussões na vida das pessoas mais vulneráveis.

Quinze anos passados e a ONU definiu os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para atingir, à escala global, até 2030. Este conjunto de metas tem o nome de Agenda 2030 e é fruto do trabalho conjunto de governos e cidadãos de todo o mundo. Sendo que agora a ideia é criar um novo Modelo Global que acabe com a pobreza, que promova a prosperidade e o bem-estar de todos, que proteja o ambiente e que combata as alterações climáticas.

Parecem metas muito mais difíceis de atingir. Dificilmente em 2030, todos estes problemas estarão completamente resolvidos ou com soluções à vista. Esta agenda incluí questões muito importantes, principalmente em Países Africanos, como o acesso a água limpa, o acesso aos cuidados de saúde ou o acesso a uma educação de qualidade.

Esta Agenda obriga a ser criativo e encontrar soluções que sejam escaláveis e que se integrem no Modelo que se pretende criar. Daí que a Ciência não possa, nem deva ficar de fora desta Agenda. 

Entre muitos outros contributos da Ciência, gostaria de falar no grafeno como uma contribuição para alcançar algumas destas metas.O grafeno é um novo material que que tem despertado o interesse nas mais diversas áreas do conhecimento, devido às suas excelentes propriedades físico-químicas, mecânicas, térmicas, eléctricas e ópticas e que pode ser utilizado em inúmeras aplicações.

É um material dos mais revolucionários da indústria tecnológica e promete ser uma verdadeira mais valia para o futuro da humanidade. Para além de ser flexível, impermeável e transparente, o grafeno consegue ser mais duro que o aço, mais fino que um fio de cabelo e melhor condutor de electricidade que o cobre.

O grafeno é constituído por uma camada extremamente fina de grafite, a mesma que está nos lápis e nos diamantes, com uma organização dos átomos numa estrutura particular.

São vários problemas do nosso quotidiano em que este material tem uma enorme vantagem. Os cientistas desenvolveram um filtro composto por óxido de grafeno que ajuda a filtrar a água do mar. Alguns estudos afirmam que estes conseguem filtrar químicos, vírus ou qualquer bactéria presente nos líquidos, conseguindo assim purificar a água.
Na Saúde, onde há milhões de pessoas sem acesso cuidados de saúde, o grafeno torna-se extremamente importante para substituir partes do corpo humano que requerem ligações a órgãos ou nervos. No melhor aproveitamento da energia solar, onde há estudos que apontam o grafeno como uma forma transformar qualquer plataforma numa fonte de energia eléctrica.

Muitas mais são as respostas que podem ser dadas apenas por este material, em muitas e diferentes áreas. Mas existem muitas outras investigações e muitos outros materiais que podem dar uma resposta mais eficaz, mais barata e mais abrangente e, assim, possibilitar a aproximação das metas da Agenda 2030.

O grafeno é apenas mais um material fantástico!

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Museu de História Natural e as personagens que nele habitam - Malangatana, Reinata e a cobra



O Museu de História Natural de Maputo, Moçambique, foi fundado em 1913 e ocupou vários locais até se estabelecer, em 1932, no actual edifício neo-manuelino como Museu Dr. Álvaro de Castro. Com a chegada da independência passa à sua actual designação.

Sou um fã deste Museu! É um espaço fantástico! Já não se fazem museus assim com animais empalhados. Agora que já passaram mais de cem anos precisam de restauro urgente.

Sobre este Museu conta-se numa história fantástica. Durante a noite todos estes animais ganham vida e procuram os seus lugares. É o caso do Serpentário, digno representante das aves em Moçambique, que durante o dia está na porta da frente a receber as visitas e à noite vagueia por todo o Museu na procura dos outros da sua espécie. Todos se agitam, correm, saltam e todos sabem que não podem acordar o crocodilo.

Sendo que além dos referidos animais habitam no Museu outras personagens… umas vivas, vivas a sério, e outras vivas nas paredes do Museu. Estranho? Não. Está tudo lá. É preciso percorrer os bem arranjados jardins, com plantas que se dão a conhecer de forma popular e com os pomposos nomes científicos, e encontramos o grande mural do Mestre Malangatana.



Aqui vive o Malangatana. Parte dele, melhor dizendo, já que o restante dele está espalhado em quadros por todo o Mundo. Tenho saudades das conversas com o Mestre.

Mas nem tudo está vivo na memória.

A Reinata está viva-viva! Uma das maiores ceramistas de África. Com mãos de barro faz esculturas fantásticas vindas da sua visão do Mundo. Um Mundo de "homenzinhos orelhudos" que nos desafiam e provocam com as suas mais variadas expressões. Perguntei à Reinata:

- Somos nós? Tenho a certeza que é assim que nos vês!


Não me respondeu, mas tentava agarrar-me com as mãos de barro!

Para terminar a visita ao exterior do Museu vou visitar outro animal vivo-vivo. A cobra.
Esta cobra tem história! Ela foi apanhada nas imediações da cidade e trazida para aqui, as suas amigas empalhadas encontram-se no interior do Museu e só passeiam à noite. Esta está cá fora e conversa com quem pode. Não é fácil falar com ela, as frases são arrastadas e tem aquela ideia permanente, que me incomoda, de abraçar sempre que pode. É uma história longa, de mais de quatro metros, que vos contarei um dia.

Este é uma imagem dos fantásticos seres que habitam o exterior do Museu em Maputo, Moçambique. Ah! Falta visitar a exposição de ciência... Sentir.com. 

Está tudo à vossa espera!

[As ilustrações são retiradas do livro “Perdido no Museu”, de António Batel Anjo e Nuno Negrões, com Ilustrações de Regina Mourisca. As fotos são minhas!]