terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Terramotos e a Ciência




Ao terminar este ano encontrei uma notícia que me chamou a minha atenção. Dois cientistas estudaram o registo de terramotos ocorridos ao longo de séculos, e encontraram padrões do acontecimento de terramotos de grande magnitude que repetem de três em três décadas.
A ideia para suportar esta hipótese reside na variação cíclica da velocidade de rotação da Terra, que de trinta em trinta anos desacelera um pouco e esse facto provoca alterações na sua forma. A massa terrestre desloca-se para os pólos quando acelera e o efeito dessas alterações pode armazena uma quantidade de energia nas falhas geológicas que provocam os terramotos.

A noticia surge agora na imprensa porque, segundo parece, esse ciclo de trinta anos acontece em 2018. Seguindo esta teoria existe a possibilidade de o próximo ano trazer consigo um aumento do número de terramotos de grande magnitude.

Há muito que os cientistas perseguem um qualquer tipo de indicador para a sismicidade, isso dar-nos-ia um aviso do surgimento dos sismos, o que salvaria muitas vidas.
No entanto, com o conhecimento actual, prever terramotos é impossível! Sabemos, isso sim, onde é mais provável que eles ocorram através das zonas geográficas que apresentam as falhas na crosta terrestre que os provocam, mas não há forma de saber quando um determinado terramoto terá lugar.

No entanto, foi publicado um artigo[1] em que se apresenta uma “correlação” entre uma maior frequência de terramotos num determinado período de tempo e flutuações na rotação da Terra. Se isto for verdade vai permitir aos cientistas prever em que anos a frequência de terramotos tem tendência de aumentar. Muitos cientistas encontram-se muito sépticos em relação a esta hipótese. No entanto os autores do estudo tiveram uma enorme cobertura nos média levantando alguns dos problemas mais antigos do jornalismo sobre a ciência.

O problema está na pressão sentida pelos cientistas para publicarem artigos em revistas acreditadas, e para isso ter estudos com resultados que chamem a atenção o que leva os cientistas a manipularem os resultados dos seus estudos para conseguirem apresentar conclusões de impacto nos média

Quando chegam à comunicação social, esta toma por verdades conclusões provisórias e meras hipóteses, ou pelo menos apresenta-as como tal. Dizia um cientista que alguns dos trabalhos têm um eco extraordinário nas notícias, como é caso do estudo que chegou à conclusão de que um copo de vinho equivale a uma hora no ginásio[2]. Obviamente, notícias dessas põe em causa a credibilidade da ciência.

Não podemos esperar que todos os estudos apresentados estejam correctos, de cada vez que ouvimos uma notícia sobre um estudo científico, devemos ter presente a ideia de que quando apresenta uma teoria, um cientista não está a fazer mais do que isso: a apresentar uma possível explicação para algo, não uma certeza!

Segundo Bendick “alguém diz algo mais ou menos extravagante, toda a gente testa o seu trabalho e é assim que a ciência progride”, O estudo que fez com Bilham era, não uma previsão conclusiva de que 2018 será marcado por uma enorme quantidade de terramotos de grande magnitude, mas apenas mais um acréscimo ao lento progresso da Ciência.




[1] Bendick and Bilham, “Do weak global stresses synchronize earthquakes?”, Geophysical Research Letters, Published online 26 Aug 2017.
[2] https://www.youtube.com/watch?v=OVs6ozmZdfM

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