sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Estranhos na minha terra

Quando alguém ou algo perturba o nosso ambiente gera-se sempre alguma expectativa e inquietude. Quem é? Será bom? O que vem fazer? De onde vem?
Mas se for um invasor, tudo se torna diferente! Instalam-se todas as dúvidas sobre as mudanças que vai trazer à nossa vida e, como nos filmes, o nosso imaginário toma conta do tempo.

No Mundo Natural há espécimes novos que vão chegando a outros lugares e que se adaptam. Foi assim no início da colonização de várias partes da Terra, como tão bem descreveu Charles Darwin no Livro “A Origem as Espécies”. Mas a colonização feita pelo Homem é acelerada e move-se por interesses que na maioria dos casos nada tem que ver com a Natureza. E foi este, com as suas viagens, que foi introduzindo aqui e ali novas espécies. Os investigadores normalmente chamam-lhes espécies exóticas, em contraponto às espécies nativas, não porque sejam bonitas ou diferentes do resto mas sim porque são espécies emigrantes que desembarcam sem aviso prévio da natureza. A sua instalação e o seu modo de viver muda radicalmente o destino daquelas que sempre viveram aí.

O Homem tem contribuído desde sempre para a circulação de espécies de um lugar para outro na face da Terra. Por vezes este transporte foi feito inconscientemente, como é o caso das oportunistas ratazanas que à boleia de barcos conseguiram colonizar praticamente todo as zonas do planeta menos os árticos.

Por vezes as espécies exóticas foram introduzidas deliberadamente com um propósito e com a ideia de obter determinado resultado. Por exemplo a xima, componente essencial da alimentação em Moçambique, não existia presentemente sem a farinha de milho. Mas o milho não é uma planta nativa de Moçambique. O milho é uma planta exótica, natural do Continente Americano e o mesmo acontece com o amendoim, o caju e a mandioca. Esta introdução de plantas está associada à alimentação e esta invasão teve muitos bons resultados, diria mais um delicioso resultado.

Tudo acaba bem quando as espécies exóticas permaneceram dentro do nosso controlo e que não afectam os ecossistemas locais. Mas existem espécies que decidiram seguir um rumo diferente daquele que tínhamos planeado para elas – as espécies invasoras. O nome já é suficiente aterrador e estas espécies exóticas invasoras quando chegam a uma nova terra espalham-se descontroladamente e acabam por causar grandes estragos. Primeiro porque afectam as espécies e ecossistemas nativos, contribuindo fortemente para perda da Biodiversidade no mundo. Em segundo pelos danos económicos que podem causar.

Em Moçambique existem, pelo menos, 12 espécies de plantas exóticas invasoras. Um exemplo é o jacinto-de-água (Eichhornia crassipes), uma planta que colonizou todos os continentes não congelados depois de ter escapado da América do Sul de onde é originária. Esta singela planta cresce descontroladamente em lagos e lagoas de tal forma que bloqueia a passagem da luz e altera a circulação da água esgotando todo o oxigénio. Sem a presença do oxigénio na água não temos peixes e outros seres que dele dependem. Mas nem todos ficaram tristes com a presença do jacinto-de-água. Os mosquitos adoram os ambientes por ele criados e com estes vem a Malária e outras doenças que a sua picada transmite.

Mas não se pense que são só as planta as invasoras! A Moçambique chegou já há algum tempo o corvo-indiano (Corvus splendens).


Mal chegou começou logo a arranjar confusão. Aos poucos vai expulsando o corvo-africano (Corvus albus) nativo e agora ataca as plantações de milho e outras culturas bem outros animais, como as galinhas. Mas além de tudo é um transmissor de doenças que podem afectar os seres humanos.

Enfim, como tudo na vida! Há bons e maus casos de espécies exóticas. Os que são bons contribuem para melhorar a nossa vida, os maus fazem-nos pensar. De uma forma ou de outra, devemos reflectir seriamente sobe a introdução de novas espécies numa Natureza que é bonita por dois motivos: é diversa e tem um equilíbrio instável.

com Nuno Negrões – Biólogo, Investigador e Divulgador

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