quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

25° 57' 55 S, 32° 35' 21 E, 63 m

A nossa posição sobre a Terra é referenciada em relação ao equador, ao meridiano de Greenwich e ao nível médio das águas do mar e traduz-se por três números: a latitude, a longitude e a altitude. Nos aeroportos, estas três coordenadas estão escritas em grandes cartazes perto das pistas, sendo que os sistemas automáticos de navegação aérea utilizam esta informação para calcular as trajectórias entre aeroportos. 
Como determinar estes pontos?
Estes pontos podem ser determinados através de um simples GPS (Global Positioning System) que não é mais do que um receptor de sinais que nos dá as coordenadas de um lugar na Terra. Este sistema foi desenvolvido pelo Departamento de Defesa Americano para ser utilizado com fins civis e militares. 

Mas nem sempre foi assim tão simples.

Em 1492, quando Colombo cruzou o Atlântico, a latitude podia ser medida normalmente, a partir de observação da estrela polar. No entanto, não havia nenhuma maneira credível de medir a longitude de um navio longe da vista de terra. Era urgente encontrar rotas cada vez mais rápidas, precisas e seguras entre o velho e o novo mundo para estabelecer o comércio, e tudo isto passava por encontrar uma solução para o problema da longitude. Daí que alguns países oferecessem grandes recompensas a quem desse uma solução a este problema.

A ideia passou por estabelecer a relação entre a longitude e a hora, simplesmente dividindo a terra em arcos separados de 15° cada (dividir 360 por 15 é igual a 24) e cada arco equivale a uma diferença no tempo de uma hora.

Agora só havia um problema para resolver: como levar um relógio para o mar?

Os relógios da altura funcionavam através do movimento de um pêndulo e, mesmo com todas as melhorias introduzidas neste tipo de relógios, estes não podiam ser levado para bordo de um navio. Com o balouçar do navio, o relógio não funcionava, já que o pêndulo deixava de ter movimentos isócronos e passava a funcionar irregularmente, acabando por parar.

Aqui começa uma história longa e absolutamente fantástica, tendo os relógios como actores principais.

Em 1714, o Governo britânico criou o Conselho de Longitude, que oferecia uma recompensa a quem conseguisse encontrar um meio de medir a Longitude no mar.
Um dos métodos apontados tinha como referência a órbita da Lua e outro tinha como referência a hora a bordo.

Sextante (Museu da Ilha de Moçambique, Moçambique)

Com a invenção do sextante (John Hadley, em 1731), conseguiu-se tomar medidas angulares a bordo do navio com uma precisão suficientemente muito importante para ambos os métodos.

Vamos apenas olhar os relógios!

Tiveram que passar mais alguns anos até que, em 1737, o Conselho deu o seu primeiro prémio a John Harrison pela invenção de uma máquina que permitia manter tempo no mar – o cronómetro.

Mas foram precisos mais de 20 anos de aperfeiçoamentos até que este relojoeiro conseguisse finalmente construir um cronómetro que iria funcionar em alto mar. Deu-lhe o nome de H4 e foi testado pela primeira vez a bordo de um navio, em 1761. Definitivamente Jonh Harrison estava associado à medição da longitude e ganhou o maior prémio atribuído pela Academia.

É desta forma que a década de 1760 marcou um ponto de viragem importante na navegação. Depois de anos de incerteza sobre a determinação da longitude no mar, os marinheiros tinham agora um método que encontrava essa medida, usando as diferenças de tempo.

Os marinheiros de hoje usam o GPS, sendo que os principais componentes são um conjunto de satélites que circundam a Terra em órbitas bem definidas, juntamente com uma rede de estações terrestres. Mas a bordo de um navio não falta um sextante, uma carta marítima, um compasso, uma régua e um… relógio. Não vá o GPS deixar de funcionar!
O interessante desta história fantástica da determinação da longitude é que a solução passou pela persistência de um relojoeiro e por muita imaginação. Moçambique está na rota desta história, bem retratada no Museu da Ilha de Moçambique. A foto é deste Museu e retrata um belo exemplar de um sextante do séc. XVII.


25° 57' 55 S, 32° 35' 21 E, 63 m – é o lugar na Terra onde foi escrito este texto! 
Sabem onde?

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