sexta-feira, 31 de março de 2017

A diversidade biológica da Gorongosa: Exemplo de seleção natural (Parte I)

Segundo Edward Osborne Wilson (n. 1929), biólogo americano, especialista em insetos, e investigador científico externo do Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, “a Gorongosa (…) é ecologicamente o parque mais diverso do mundo”.

Esta diversidade é o resultado de milhões de anos de evolução. O principal mecanismo de evolução das espécies é a selecção natural. Mas como funciona a selecção natural?

Ao longo do tempo, foram vários os naturalistas que tentaram perceber a diversidade biológica existente no nosso planeta, e explicar a relação entre espécies extintas e espécies atuais. Ou seja, foram vários aqueles que tentaram compreender e formular teorias acerca de como se podem originar novas espécies.

O filósofo grego Aristóteles (384 a. C. - 322 a. C.), considerado, por muitos, o Pai da Biologia, foi um dos primeiros a estudar e classificar seres vivos, sobretudo animais. Contudo, o sistema de classificação aristotélico baseava-se apenas, por exemplo, no habitat ocupado pelos diferentes animais (existindo animais terrestres, marinhos e voadores), ou no tipo de sangue desses mesmos animais (existindo animais de sangre frio e animais de sangue quente).

Bem mais tarde, os irmãos naturalistas suíços Gaspard (1560-1624) e Johann Bauhin (1541-1612) terão sido os primeiros a fazer uso de um sistema binomial (ou binominal) de classificação de seres vivos.

Entretanto, no mundo microscópico, a primeira pessoa a observar células foi o naturalista britânico Robert Hooke (1635-1703). Foi ele também quem criou o termo “célula” e iniciou a Teoria Celular.

Contudo, foi o naturalista sueco Carl Lineu (1707-1778), autor da obra Systema Naturae (1753), quem popularizou o sistema binomial (ou binominal) de classificação de seres vivos. Este sistema consiste em atribuir um nome científico, composto por duas palavras (em latim ou latinizadas), a cada espécie de ser vivo: a primeira palavra, o nome genérico (com a inicial em maiúscula), corresponde ao género; e a segunda palavra, o descritor específico (com a inicial em minúscula), corresponde à espécie. É o que acontece, por exemplo, com o nome científico da actual e única espécie humana existente: Homo sapiens.




Já os nomes científicos das subespécies são compostos por três palavras: ao nome genérico e ao descritor específico, acrescenta-se o descritor subespecífico. É o que acontece, por exemplo, se considerarmos que os humanos modernos são uma subespécie: Homo sapiens sapiens. Além disso, os nomes científicos (de espécies e subespécies) devem ser escritos em itálico (com a letra inclinada); quando são manuscritos, os nomes devem ser sublinhados.

Por outro lado, na restante classificação taxonómica, os taxa hierarquicamente superiores são uninominais, ou seja, são compostos por uma só palavra (com a inicial em maiúscula). É o que acontece, por exemplo, no caso da família, ordem, classe, divisão, e reino da espécie (ou subespécie) humana, respetivamente: Hominidae, Primates, Mammalia, Chordata, Animalia.

terça-feira, 28 de março de 2017

Hoje penso que foi a curiosidade e o interesse em experimentar a minha forma de aprender a aprender.



Experimentar tornou-se essencial no processo de aprendizagem! Por que é as pessoas não querem encarar esta realidade? O mundo mudou, mas a educação não. O ritmo de mudança na Educação é lento e descontinuo.

Todos os dias ouço há minha volta que temos que motivar os alunos. Mas depois vejo que todos são obrigados a aprender a mesma coisa da mesma forma.

A velha ideia de compartimentação do Ensino em disciplinas estanques tornou-se desadequada e deixou de ter sentido. Perceber o entrelaçamento dos temas, que agora constituem as disciplinas, e relacioná-los com a prática seria um passo de gigante para motivar os alunos.

De igual modo, seria importante respeitar o ritmo de aprendizagem dos alunos e personalizar o processo de aprendizagem. A tecnologia permite fazer tudo isto a muito baixo custo e de forma equitativa.

Aprender, devia ser a palavra de ordem e “aprender a aprender” o objectivo final de qualquer sistema de Ensino. As competências que um aluno necessita de reunir para ter sucesso podem ser adquiridas de muitas formas. As Escolas, todas elas, estão a ser ultrapassadas por não perceberem como motivar os alunos. Os alunos aprendem vendo, fazendo, discutindo, modificando e tirando conclusões do que observaram, em suma - experimentando!

Aulas onde os professores debitam quantidades e quantidades de conhecimento contabilizado em tempo e em temas, não têm qualquer sentido. Será melhor deixar os alunos explorar o espaço envolvente e serem questionados sobre o que observam. Parte da exploração teórica pode até ser feita através de programas adequados de televisão ou usando meios interactivos através da internet. As aulas só devem começar quando um determinado nível de conhecimento estiver adquirido e servem para promover o conhecimento e a aprendizagem através da discussão e do debate.

Seria importante ter contacto com bibliotecas, mas estas não existem ou não estão apetrechadas de livros, mapas e meios de consulta. Mas isso não representa um problema por si só, já que uma grande maioria de alunos e professores tem acesso a um telemóvel. Grande parte daquilo que precisamos de conhecer fica ali mesmo no visor, mas ficam também disponíveis enormes quantidades de dados. Estes dados são preciosos, se as fontes forem fiáveis, e os alunos e professores podem fazer uso dele em favor de uma melhor e mais dinâmica aprendizagem.

Os alunos devem ser preparados para “aprender a aprender” e a perceber as grandes dinâmicas mundiais de mudança – politica, social, económica e ambiental. Tudo isto se consegue com motivação, trabalho e rigor.

A minha recente experiência na preparação de alunos para uma olimpíada de robótica entusiasmou-me e fez-me perceber que inverter este caminho de insucesso, passa por experimentar. Criar movimento, perceber os objectivos e atingir o alvo. Alunos que nunca viram um robô são agora programadores destas máquinas fantásticas, percebem a utilidade da Matemática, da Física, da Mecânica e da Electrónica, mas estão, sobretudo, motivados a estudar mais e mais para alcançar um objectivo – aprender mais.

São, e sempre o foram, alunos fantásticos, inteligentes e agora, bem mais motivados.

A Tecnologia aproxima as pessoas e faz encontrar novas soluções de ensino e aprendizagem. Onde hoje se vê uma ameaça, está uma grande oportunidade de motivar e criar entusiasmo. Não falo de deixar usar livremente telemóveis e computadores nas aulas, mas de os explorar estrategicamente (didáctica e pedagogicamente) para obter dados úteis e aumentar o conhecimento.

Por tudo isto, precisamos urgentemente de rever a formação de professores inicial e de um ambicioso programa de formação em exercício. Precisamos também de aliar o “saber pensar” e o “saber fazer” e redefinir o “saber estar” de modo a incluir nesta equação o “saber experimentar”, livremente, com imaginação e criatividade.

domingo, 26 de março de 2017

Sísifo e os antibióticos


Sísifo, que vos apresentarei mais adiante, e os antibióticos têm um percurso um tudo ou nada semelhante. Ambos percorrem um caminho e dentro de pouco tempo têm de voltar ao início. Mas comecemos então por apresentar os nossos personagens, quem são, o que fazem, e porquê o seu percurso se assemelha.

De acordo com a mitologia grega, Sísifo era o mais astuto de todos os mortais, quiçá um dos primeiros gregos a dominar a escrita, que desafiou vezes sem conta os deuses. Assim, e no sentido de mostrar que os mortais não podem gozar das liberdades dos deuses, Sísifo foi condenado a repetir vezes sem conta a mesma tarefa que constava em empurrar uma pedra de mármore por uma encosta acima, no entanto, pouco antes de chegar ao topo a pedra rola encosta abaixo, tendo Sísifo de começar tudo de novo.


Tal como o nome indica antibiótico é algo contra a vida, neste caso a vida de microorganismos. Assim, podemos subdividi-los em: antiparasitários, antibióticos dirigidos a parasitas; os antifúngicos, antibióticos dirigidos a fungos e os antibacterianos, antibióticos dirigidos a bactérias. Sendo que a maioria das infeções é causada por bactérias, muitas das vezes o termo antibiótico é mais usado que antibacteriano quando nos queremos referir a este último. Os antibióticos são compostos derivados de plantas, animais, fungos ou mesmo sintéticos, que, em pequenas quantidades, são capazes de matar ou inibir o crescimento dos microorganismos. Os antibióticos podem ser classificados de acordo com a sua estrutura química, mecanismo de acção, origem biológica, e ainda o seu local de acção.

Mas então qual a semelhança entre os percursos dos nossos personagens? 

As bactérias são microorganismos fantásticos! Esta frase pode depender um pouco do ponto de vista. No entanto, do ponto de vista de alguém que as estuda, é díficil não concordar. Vejamos, as bactérias estavam presentes no planeta muito antes do Homem, e têm mais probabilidades de se adaptar a eventuais mudanças que o Homem, consequentemente mais probabilidades de cá permanecer na eventualidade da Humanidade ser extinta. 

São seres unicelulares e ainda assim perduram há milhares de milhões adaptando-se com extraordinária facilidade às mudanças ocorridas no seu ambiente. Se por um lado as bactérias podem ter um papel benéfico, muitas há que representam uma ameaça para o Homem travando com ele uma batalha constante, e nos dias que correm, estão melhor posicionadas para ganhar a guerra! 

Não obstante o Homem descobrir antibióticos para combater as bactérias, estes terão sempre o mesmo destino de Sísifo: voltar à estaca zero! Será apenas uma questão de tempo até às bactérias se adaptarem e conseguirem arranjar maneira de resistir ao efeito do antibiótico.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Olimpíadas de Robótica - formação dos alunos


Os alunos, entre os 15 e os 18 anos, estão envolvidos numa competição que os leva a perceber a aplicabilidade daquilo que aprenderam ao longo dos anos nas suas Escolas, da Matemática às Línguas, da Mecânica à Electrónica, todas as disciplinas são importantes quando se trata de resolver problemas. São mais mais de 140 nações que vão viajar para Washington, DC, em Julho, para participar nas Olimpíadas de Robótica. 

A equipa de Moçambique está a ser preparada através de uma formação intensiva que decorre no Instituto Industrial de Maputo e que se irá estender até Julho próximo. São mais de dez estudantes da Escola Secundária Estrela Vermelha e do Instituto Industrial de Maputo que estão em formação, para que no final sejam seleccionados três. Os Professores de ambas as Escolas apoiam e treinam todos os alunos desta grande equipa. A formação é apoia por outros especialistas de empresas e universidades.

Este é o primeiro robô montado e programado pelos alunos. Vejam!


quarta-feira, 22 de março de 2017

Olimpíadas de Robótica - primeiro dia



A FIRST Global organiza todos os anos um desafio internacional de robótica com o objectivo de despertar a paixão pela Ciência,Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) entre os jovens. 

A First, criou uma estrutura para um desafio de robótica ao estilo "olímpico", onde cada equipa representa uma nação. Todas as equipas que participam neste  evento  global estão unidas pela competição mas também pela amizade e fraternidade. Por isso se chamam Olimpíadas de Robótica. 

Os alunos, entre os 15 e os 18 anos, estão envolvidos numa competição que os leva a perceber a aplicabilidade daquilo que aprenderam ao longo dos anos nas suas Escolas, da Matemática às Línguas, da Mecânica à Electrónica, todas as disciplinas são importantes quando se trata de resolver problemas. São mais mais de 140 nações que vão viajar para Washington, DC, em Julho, para participar nas Olimpíadas de Robótica. 


Moçambique também participa! A equipa do Programa Criando o Cientista Moçambicano do Amanhã, do MCTESTP, é responsável por esta iniciativa e toda a operação é financiada pelo Banco Mundial.

A equipa de Moçambique está a ser preparada através de uma formação intensiva que decorre no Instituto Industrial de Maputo e que se irá estender até Julho próximo. São mais de dez estudantes da Escola Secundária Estrela Vermelha e do Instituto Industrial de Maputo que estão em formação, para que no final sejam seleccionados três. Os Professores de ambas as Escolas apoiam e treinam todos os alunos desta grande equipa. A formação é apoia por outros especialistas de empresas e universidades.



A formação tem por objectivo aumentar o conhecimento dos alunos nas áreas de STEM e permitir que estes alunos possam levar o mais longe possível o nome de Moçambique.


Honestamente, esperamos que eles se possam tornar a próxima geração de Cientistas e que, aprendendo a trabalhar em equipa, possam resolver alguns dos problemas do nosso Mundo. 

Certo, é que a equipa seleccionada terá uma história para contar e uma missão para realizar.

Hoje foi o primeiro dia! Vamos contar muitas histórias acerca desta iniciativa!

terça-feira, 21 de março de 2017

Dia Mundial da Água - Desperdício de Água

A data visa alertar as populações e os governos para a urgente necessidade de preservação e poupança deste recurso natural tão valioso. A gestão dos recursos de água tem impacto em vários sectores, nomeadamente na saúde, produção de alimentos, energia, abastecimento doméstico e sanitário, indústria e sustentabilidade ambiental.

As alterações climáticas provocam graves impactos nos recursos de água. Alterações atmosféricas como tempestades, períodos de seca, chuva e frio afectam a quantidade de água disponível e colocam em risco os ecossistemas que asseguram a qualidade da água.

A comemoração surgiu no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Ambiente que decorreu na cidade brasileira do Rio de Janeiro, em 1992. Os países foram convidados a celebrar o Dia Mundial da Água e a implementar medidas com vista à poupança deste recurso, promovendo a sua sustentabilidade.
Foto: Sapo Notícias

Em Moçambique 

As comemorações do Dia Mundial da Água este ano terão como lema: “Águas Residuais - com enfoque no desenvolvimento sustentável” em reconhecimento da sua importância na economia circular e sua gestão segura como um investimento eficiente na saúde dos seres humanos e dos ecossistemas. Segundo a UN-Water, mais de 663 milhões de pessoas, não tem acesso a àgua potável. Esta situação é mais dramática na região da África subsariana, onde o crescimento populacional está a impulsionar a procura de água e a acelerar a degradação dos recursos hídricos. Nesta região de África, mais de um quarto da população gasta mais de meia hora por ida e volta para colectar água, o que tem graves implicações para mulheres e crianças. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 115 pessoas morrem em África a cada hora devido a doenças relacionadas com a falta de saneamento, falta de higiene e água contaminada. A falta de acesso a água potável e saneamento ainda mata mais crianças do que a malária, o sarampo e o HIV / SIDA combinados.

E uma das metas dos ODS é garantir que todos tenham acesso a àgua potável até 2030, tornando a água um tema-chave na luta contra a erradicação da pobreza extrema. Deste modo, é pertinente o investimento em medidas que considerem as condições climáticas actuais e futuras, bem como as tendências no uso da água em diferentes esferas e tecnologias de purificação da água, utilização racional e gestão da água de forma sustentável.

A complexidade técnica, económica, social, legal e ambiental do sector de águas em Moçambique exige o fortalecimento do papel da ciência e da tecnologia, e em particular para a aquisição e desenvolvimento de conhecimento, pesquisa e transferência de tecnologias para resolução dos problemas.

Neste contexto, o Ministério da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional, através do Instituto de Investigação em Águas (IIA), realiza uma palestra alusiva às comemorações do dia mundial da água, subordinado ao tema: “Águas residuais, seu impacto para a manutenção da vida e do Meio Ambiente”

A Palestra irá decorrer, nas instalações do Instituto de Formação de Professores Eduardo Mondlane, na Cidade de Xai-Xai, Província de Gaza, no dia 22 de Março de 2017, das 09 às 15:00 horas. 
(Contactar Roda Nuvunga Luís – Directora do Instituto de Investigação em Águas.)


sábado, 18 de março de 2017

Microbiologia: viagem ao mundo invisível (Parte III)


Como um dia ouvi dizer uma famosa investigadora portuguesa, com ligações à Gorongosa, a doutora Eugénia Cunha “ausência de evidência, não é evidência de ausência”. Se na última viagem falámos de uma parte da Microbiologia que pode apresentar algumas formas visíveis a olho nú, hoje falaremos de uma outra parte da Microbiologia, que se dedica ao estudo dos vírus, a Virologia, onde isso é impossível, não querendo de todo dizer que eles não existem!

Vírus é uma palavra que deriva do latim e significa “veneno” ou “toxina”. Embora só tenham sido observados através do uso do microscópio electrónico na década de 40 do século passado, existem registos da sua manifestação no Século X AC, na China. Mas o que são afinal os vírus? Os vírus são agentes infecciosos de pequenas dimensões (20-300 nm), intracelulares obrigatórios (dependem da célula hospedeira para se replicar) e têm como material genético o ácido desoxirribonucleico (ADN) ou o ácido ribonucleico (ARN). Em raras excepções, podem conter, simultaneamente, ADN e RNA, como é o caso do mimivírus. A estrutura de um vírus é relativamente simples. De um modo geral, são constítudos por material genético (ADN ou RNA) envolto numa capside. Estes são chamados os vírus nús. A capside pode estar envolvida por uma estrutura designada de envelope, neste caso os vírus são revestidos.

Imagem de: http://biologiadezblog.blogspot.pt/p/virus-caracteristicas-gerais.html

Existe ainda uma grande controvérsia se os vírus podem ser considerados seres vivos. Alguns dos argumentos a favor desta afirmação assentam em factos como reproduzirem-se e evoluírem face ao ambiente, e fazerem parte de linhagens contínuas. Por outro lado, alguns dos argumentos contra esta afirmação prendem-se com o facto de os vírus não serem capazes de obter nutrientes e energia, e não terem um metabolismo próprio. Controvérsias à parte, os vírus são os agentes infecciosos mais difundidos no planeta. Eles podem infectar plantas, mamíferos, insectos, protozoários e até bactérias. Alguns vírus são inofensivos. No entanto, outros, como o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), o Ébola, ou o de Marbug, são extremamente perigosos pela sua alta capacidade de contágio.

Se no caso do HVI, agente associado ao Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida (SIDA), já existe bastante informação disponível, uma vez que, infelizmente, em muitos países, este vírus afecta uma grande percentagem da população, o que se verifica também em Moçambique, existem outros vírus onde a informação é mais escassa, como é o caso da Dengue. A Dengue é uma doença viral causada pela picada de um mosquito (tisuna, em changana) fêmea infectado com o vírus. 

Esta não é uma doença muito frequente em Moçambique. Contudo, em 2014, a província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, registou 20 casos da doença. O transmissor do vírus é o tisuna Anopheles, o mesmo que pode também transmitir a Malária.

quarta-feira, 15 de março de 2017

É a semana de conhecer o cérebro!

Comemora-se esta semana, de 13 a 19 de Março, por todo o mundo, a Semana Internacional do Cérebro. Esta comemoração é uma iniciativa da "Dana Alliance for Brain Initiatives", e tem como principais objectivos divulgar os avanços conseguidos na investigação do cérebro e educar o público sobre o cérebro e as potencialidades da sua investigação. Esta é já a 22ª edição desta iniciativa e mais de 700 eventos, espalhados pelo globo, levam o as questões associadas ao cérebro até ao cidadão comum.

Brain Awareness Week, da Dana Alliance for Brain Initiatives

O cérebro humano pesa cerca de 1,3kg, apenas 2% do peso corporal, mas sozinho recebe ¼ do sangue bombeado pelo coração. Tem uma cor acinzentada, superfície em sulcos e estrutura gelatinosa. É protegido pelas meninges e pelo crânio.

O cérebro divide-se em duas grandes partes: o hemisfério esquerdo e o hemisfério direito. O hemisfério esquerdo é responsável pelo pensamento lógico, linguagem, análise… O Hemisfério direito é artístico, sendo responsável pela pensamento simbólico, criatividade, imaginação… Os hemisférios dividem-se ao longo da fissura inter-hemisférica ou sagital, no fundo da qual se encontra o corpo caloso, responsável pela conexão entre os hemisférios.

O cérebro é constituído por tecido nervoso. Este tecido, altamente especializado, possui dois grandes tipos de células: os neurónios (Fig. 2), responsáveis pelos impulsos nervosos, e as células da glia, cujo papel vai para além de apenas sustentar, nutrir e proteger os neurónios.

Estudos recentes indicam que o cérebro humano é constituído por cerca de 86.000.000.000 de neurónios e bem menos células da glia do que se acreditava até então, “apenas” entre 40.000.000.000 e 130.000.000.000, constituindo uma complexa rede de células, que comunicam ativamente entre si.

Fig. 2. Esquema simples de um neurónio

A distribuição destas células no cérebro faz com que este apresente dois tipos de substância: mais à superfície, a substância cinzenta, onde se localizam os núcleos dos neurónios, e a substância branca mais central e constituída pelos prolongamentos dos neurónios, os axónios, cobertos de mielina, substância que facilita a transmissão dos impulsos nervosos.

A substância cinzenta, que constitui o córtex cerebral, divide-se em lobos, nomeadamente nos lobos frontal, parietal, temporal e occipital, que possuem os mesmos nomes dos ossos do crânio que os cobrem. Cada uma destas áreas apresenta funções diferentes e específicas. O lobo frontal é responsável pelas ações e movimento (córtex motor) e pelo pensamento abstracto, enquanto os restantes se ocupam do tratamento das percepções recolhidas pelos nossos órgãos dos sentidos.

Fig. 3. Funções distribuídas pelo cérebro

Ambos os hemisférios apresentam um córtex motor ao nível do lobo frontal. O córtex motor do hemisfério direito controla a parte esquerda do corpo e o córtex motor do hemisfério esquerdo controla a parte direita do corpo.

O cérebro controla a fome, a sede, o movimento, a temperatura do corpo, permite que comuniquemos das mais diversas formas, torna-nos seres criativos, que resolvem desafios e ultrapassam barreiras. Contudo, o cérebro tem fraquezas, também ele é assolado por inúmeras doenças, que colocam em causa o seu funcionamento óptimo, e nós próprios como humanos.

Doenças neuro degenerativas, como a doença de Alzheimer ou a doença de Parkinson, doenças vasculares, como o acidente vascular cerebral, e infecções, como as meningites, são alguns dos exemplos de doenças que afectam o cérebro. Em Moçambique, as doenças neurológicas são uma das três principais causas de morte.

Assim, é essencial conhecer melhor o nosso cérebro, promover a investigação das suas potencialidades, bem como da melhor forma de combate às suas fraquezas. A importância deste órgão justifica que, pelo menos, durante uma semana no ano, façamos um esforço para o conhecer melhor!

terça-feira, 14 de março de 2017

Cestos e o pássaro equilibrista - a ciência nas mãos.

Procurem na rua um artesão que vende o famoso pássaro equilibrista. Não lhe perguntem o princípio físico que suporta este precioso equilíbrio, perguntem-lhe como é que, através da sua arte, ele consegue obter esse mesmo equilíbrio.



Observar este princípio físico do pássaro equilibrista é bastante simples. Colocando as penas da cauda no suporte, ou na ponta do dedo, a que se chama ponto de apoio, ele oscila em torno desse ponto de equilíbrio sem cair. Ou simplesmente podemos fazê-lo girar na horizontal em torno do ponto de apoio.

Por que é que o pássaro não cai? O princípio físico é bastante simples: quando apoiamos o pássaro no ponto de apoio ele fica em equilíbrio devido ao contrapeso que existe nas extremidades das asas, que têm a função de deslocar o centro de massa do pássaro. No fundo, a posição média de toda a massa que constitui o corpo fica sobre o ponto de apoio e, desta forma, temos um equilíbrio estável do pássaro. É só por isto que ele na cai.

Muitas destes encontros com a Ciência acontecem quase sempre fora da Escola. Num dos últimos artigos de Paulus Gerdes, “Reflexões sobre o ensino da matemática e diversidade cultural”, publicado na Revista Latino-americana de Etnomatemática (vol. 7, núm. 2, junho – setembro de 2014), ele explora alguns exemplos, que surgem em contexto de aprendizagem não-formal, para potenciar a sua utilização na formação de professores e com os alunos do ensino secundário.

Ainda sobre o trabalho de Paulus Gerdes e, desta feita, ao livro “Sipatsicestaria e geometria na cultura Tonga de Inhambane”, publicado pela Moçambique Editora, em 2003. Nele podem ficar a saber a forma de trabalhar das mulheres que produzem os belos cestos de Inhambane. As figuras geométricas e os padrões obtidas através do simples entrelaçar de várias palhas coloridas originam padrões e formas matemáticas como se tivessem toda a Geometria nas mãos. É certo que estará algures no cérebro, sendo este um conhecimento inato que passa de geração em geração, mas que surpreendentemente foi evoluindo na complexidade das formas obtidas.

As cesteiras, na sua maioria mulheres, nunca foram à Escola aprender a sua arte. É este trabalho que pode ser essencial para estabelecer uma ligação cultural que valorize o seu saber e que pode ser aproveitado para a formação de professores e alunos com uma forte componente étnica ou local. Agora observem um cesto, um simples cesto, e vejam a Arte e a Matemática que ele contém.

Com os muitos exemplos que conhecemos do “saber empírico” que nos rodeia e o saber fazer inato que passa de geração em geração, devemos todos refletir sobre a sua importância e qual o processo necessário para fazer germinar nos nossos jovens o interesse e a criação de gosto pela Ciência e pela Arte. A Etnomatemática é uma excelente didática e é, sobretudo, um excelente caminho para levar os jovens a gostar da Matemática, percebendo-a! 


O desenvolvimento da Etnomatemática está intimamente ligado ao trabalho de Paulus Gerdes, diria mesmo que se confundem. Este reputado Professor Moçambicano, já falecido, fundador da Universidade Pedagógica e uma referência mundial na Matemática. 


Microbiologia: viagem ao mundo invisível (Parte II)


Continuando a viagem ao mundo invisível, no qual se foca a Microbiologia, iniciada com a Parasitologia e a Bacteriologia, seguimos agora com a Micologia.

A Micologia é a parte da Microbiologia que se dedica ao estudo dos fungos. Os fungos podem ser unicelulares, e nesse caso são chamados de leveduras, ou multicelulares. Não obstante poderem ser causadores de doença para o Homem, plantas e animais, os fungos têm extrema importância e são inúmeras as suas aplicações, a saber:

- Alimento: o fungo (cogumelo) propriamente dito pode servir de alimento, as leveduras são vulgarmente utilizadas para o fabrico de bebidas alcoólicas (por exemplo, cerveja) e alimentos fermentados.

- Agricultura: as micorrizas são uma associação simbiótica entre fungos e as raízes de algumas espécies de plantas. Esta associação é benéfica para a planta na medida em que as hifas dos fungos ajudam na captura de água e sais minerais do solo. No entanto, os fungos podem ser devastadores para a agricultura. Em 2015, foram reportados casos de infecção de plantações de bananeiras Cavendish, especialmente no norte de Moçambique. Neste caso, o fungo Tropical Race 4 afecta o tecido vascular da planta, impedindo que ela se alimente e acabe por morrer, podendo assim destruir plantações inteiras, muitas das quais são o único meio de subsistência de pequenos agricultores.

- Saúde: no que diz respeito à saúde, os fungos podem ser encarados como estando dos dois lados de uma guerra – a doença. Se por um lado são causadores de doenças que podem afectar o Homem, as plantas e animais, por outro lado, alguns fungos produzem compostos que são capazes de combater doenças causadas por bactérias.

                                              Alexander Fleming (1881-1955)

É incontornável falar de fungos e não falar de Alexander Fleming, médico, farmacologista, biólogo e botânico britânico. Fleming é o exemplo mais emblemático de como devemos sempre estar despertos para o que nos rodeia. A descoberta que lhe valeu um prémio Nobel, dizem muitos, foi fruto do acaso. Eu diria que foi fruto de uma mente extremamente observadora e curiosa. 

Tendo saído de viagem, Fleming deixou no seu laboratório algumas placas com uma bactéria, Staphylococcus aureus. Sendo as placas velhas, o mais natural era que as deitasse ao lixo. Contudo, Fleming observou-as e reparou um fenómeno estranho numa delas. 

Existia "qualquer coisa" que inibia o crescimento da dita bactéria. Essa "qualquer coisa" veio então mais tarde a revelar-se ser a penicilina, um composto produzido por um fungo, Penincilum notatum. A penicilina é um antibiótico, produzido por um fungo, que salvou milhares de vidas durante a II Guerra mundial (1939-1945).

sexta-feira, 10 de março de 2017

Biologia Experimental Moderna: Nicolau van Uden esteve em Moçambique!

O filósofo grego Aristóteles (384 a. C. - 322 a. C.) é considerado, por muitos, o Pai da Biologia, visto que foi um dos primeiros a estudar e classificar seres vivos. Já o padre e filósofo natural italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799) é frequentemente apontado como um dos primeiros a realizar trabalhos de Biologia Experimental, pelas atividades experimentais que conduziu ao longo da sua vida.

Quanto à Biologia Moderna, esta surgiu principalmente com as teorias do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882), sobre a origem das espécies por meio da seleção natural, e com as descobertas do monge e naturalista austríaco Gregor Mendel (1822-1884), relacionadas com as leis da hereditariedade. Nessa mesma época, começaram a ser conduzidas atividades experimentais mais arrojadas, pioneiras da Biologia Experimental Moderna. De entre as primeiras, talvez se possam destacar aquelas realizadas pelo médico francês Claude Bernard (1813-1878) e pelo cientista francês Louis Pasteur (1822-1895).

Em Portugal, um dos responsáveis pela introdução da Biologia Experimental Moderna foi o médico holandês Nicolau van Uden (1921-1991), que esteve em Moçambique em 1959.




Nicolaas (Nicolau) Johannes Maria van Uden nasceu na cidade de Venlo, na Holanda, a 5 de março de 1921. Depois de terminar o liceu, com notas muito altas, na sua cidade natal, van Uden ingressou na Universidade de Viena, onde viria a concluir a licenciatura de Medicina. Durante este período, iniciou a prática de investigação científica num laboratório de Dermatologia, com base na qual publicou artigos sobre agentes patogénicos humanos e animais, com especial ênfase no agente causador da sífilis.

Foi na capital austríaca que, em 1945, conheceu D. Maria Adelaide de Bragança (1912-2012), com quem viria a casar no mesmo ano. Ambos comungavam do desejo de irem para África, com o intuito de prestar apoio social e médico às populações daquele continente, em particular em Moçambique. Em 1948, o casal resolveu mudar-se para Portugal. Durante os primeiros dois anos no nosso país, van Uden estava, duas vezes por semana, num laboratório do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, onde tinha de manter a coleção de culturas e ajudar nos isolamentos. Durante este período, desenvolveu um estudo sobre as pulgas em humanos.

Uma vez que o diploma do curso de Medicina que van Uden tinha concluído na Universidade de Viena não era reconhecido em Portugal, viu-se obrigado a completar uma nova licenciatura, tendo-se depois especializado em medicina tropical e em dermatologia.
Em 1950, iniciou uma secção de Micologia Médica no Departamento de Micologia do Instituto de Botânica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. A investigação aqui produzida levou à identificação de dezenas de novas espécies de leveduras e à publicação de vários artigos científicos. Em 1952, iniciou a Coleção Portuguesa de Cultura de Leveduras.

Em 1959, fez uma viagem a Moçambique, onde permaneceu nove meses, dedicando-se ao levantamento de doenças e à vacinação de pessoas. Foi também neste país que recolheu amostras que lhe permitiram descrever e analisar leveduras intestinais do microbioma de animais domésticos (como cabras e porcos) e de animais selvagens (como hipopótamos e babuínos). Por esta altura, passou a ser conhecido como um especialista em três áreas: Taxonomia de Leveduras, Micologia Médica e Veterinária, e Microbiologia Marinha.

Através da investigação científica levada a cabo por si e pelos seus colaboradores, na década de 1960, no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, van Uden foi um dos responsáveis pela emergência da Biologia Experimental Moderna em Portugal.

Em 1969, van Uden iniciou um programa internacional de cursos monográficos intensivos de pós-graduação, que sempre dirigiu, e que viria a influenciar o rumo da ciência e do ensino em Portugal: os Estudos Avançados de Oeiras. Foi com estes cursos que novos métodos de investigação científica e de ensino foram sendo introduzidos, na área das ciências da vida, em várias instituições de ensino superior, não só em Portugal, como noutros países.

No final de 1974, van Uden defendeu a sua tese de Doutoramento na Universidade de Coimbra, em Genética Molecular. Faleceu no seu laboratório, em Oeiras, a 5 de fevereiro de 1991, poucos dias antes de completar 70 anos.


quarta-feira, 8 de março de 2017

Tisuna no meu quintal

O Anopheles é o mosquito (tisuna, em changana) que transmite a malária. Causada por um parasita, o Plasmodium, é através da picada de um mosquito fêmea que se dissemina a doença que mais mortes causa em Moçambique.

O Projecto Tisuna Muzototo propunha-se lutar pela redução da mortalidade infantil e materna, em especial a relacionada com a malária. E para mim, elevava-se uns centímetros mais: mudar de país, viver em África, corresponder a expectativas, cumprir com sucesso o desafio que me havia sido proposto. Não esperava nada, só queria fazer melhor. Melhor do que quem tentou antes. Melhor do que quem nada pode fazer, e com quem quer ainda fazê-lo. O melhor para os poucos que dele poderiam beneficiar. O meu melhor.

Se, por um lado, Moçambique não me era completamente desconhecido, também não era (ainda) o meu quintal. Chókwè - na província de Gaza - foi, em todos os aspectos, o mais desafiante obstáculo. Os tais centímetros extra. A consciência sobre a malária cresceu, e os mosquitos foram deixando de guardar segredos – os protocolos seriam seguidos à risca e os resultados minuciosamente analisados. Afinal, é para isso que nos preparamos, conscientemente. Mal sabendo que, frente à meta, estamos sempre aptos a superar mais aqueles centímetros. Ou a matar mais uns quantos mosquitos!


Sediada em Chókwè, a parceria entre o Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa (IHMT), O Ministério da Saúde de Moçambique (MISAU) e a organização Médicos do Mundo arrancou em 2007. Daqui seguiríamos para os distritos vizinhos de Guijá, Mabalane e Massingir, num raio de 400 quilómetros na província de Gaza, apenas tão longínquos quanto a perícia dos pilotos permitiu. E com a ambição de abranger, ainda que indirectamente, uma população de cerca de 400 000 habitantes.  As nossas acções atingiriam cerca de 17 000 mulheres grávidas e 60 000 crianças com menos de 5 anos, os principais afectados com a doença. Na impossibilidade de chegar a todos como beneficiários directos, percorremos uma parte significativa desta população, a quem foram distribuídos métodos de prevenção (redes mosquiteiras tratadas e insecticida intra-domiciliário de longa duração - PIDOM) e a quem aplicámos um questionário sobre conhecimentos e atitudes em malária. Para além da recolha de amostras, foram também realizados testes rápidos, com os quais detectámos e tratámos casos positivos.


Mas o Tisuna Muzototo é mais do que os habituais donativos. Mais do que apenas dar, queríamos construir, deixar, formar.

Ensinar a fazer o diagnóstico precoce, aos técnicos de saúde. Verdadeiros “doutores” nos pequenos laboratórios distritais, tão ou tão pouco apetrechados que o técnico é o mais precioso dos instrumentos. Esta é a formação que o fará chegar às famílias que procuram ajuda.

Saber alertar. Aos líderes comunitários, para que juntem à sua palavra os conselhos dos loucos cientistas que aqui chegaram, que se aventuraram ao deixar a batas brancas de lado, mas que se integraram, e até já sabem umas palavras em changana. E o que isso nos aproxima, mulungo! Aos líderes religiosos, para que fundam os poderosos discursos outrora distantes na religião, e que tornem possível congregar, na mesquita da capital ou na igreja do quinto bairro, a fé e o combate à malária - que está também nas acções de cada um, no cuidado com o próximo.

Saber usar métodos preventivos. Ao munumuzana, o chefe de família, que por vezes põe em causa a eficácia da PIDOM, impedindo a sua casa e, consequentemente, a dos vizinhos, de receber um repelente de longa duração. Um ano de protecção, através de uma campanha que chega tão longe quanto o Anopheles! Onde talvez a rede mosquiteira tratada ainda não tenha chegado. Ou então terá servido para capturar outras espécies, alimento, deixando o tisuna livre.

Saber identificar a tempo! Às mamanas, que embalam a malária no colo, tarde demais para evitar que lhe morra nos braços. Os primeiros sintomas confundem até o mais informado, mas fizemos por mostrar que é nesta altura que devemos consultar um médico, que ele e o seu “quinino” têm o poder de curar, de evitar os números mais cruéis – a malária é curável e pode ser prevenida!

Saber melhorar. No fim, o projecto quis deixar a possibilidade de melhorias constantes! Um velho problema Moçambicano que todos temos o poder de combater, e que já não está só nas mãos das grandes instituições. Que o digam as populações por onde passámos, onde conquistei um quintal livre de Anopheles e a vizinhança tirou proveito da inovação científica. Desde o primeiro bairro de Chókwè, até ao Laboratório de Referência da Malária, Moçambique está alerta! Estou certa de que, juntos, continuaremos a melhorar a capacidade de vigilância, e a caminhar para um grande quintal livre de tisunas.


Mulheres na Ciência

© Odete Maximpua
Hoje, no dia Internacional da Mulher, recupero aqui o testemunho da Eng. Odete Muximpua, Mestre em Engenharia Civil.
Com o incentivo da sua professora de matemática, iniciou os seus estudos na UEM no curso de Engenharia Civil, depois de passar com distinção o exame nacional de admissão e, em 2000, era uma de apenas uma, num total de cinco mulheres, numa turma de 55 alunos. Em 2007, ingressou no Banco Mundial para trabalhar na estratégia urbana de Moçambique para a água e saneamento. Mais tarde, como quadro do Banco Mundial, voltou à universidade para iniciar o Mestrado.


O testemunho está no sítio do Banco Mundial e é de 2015. Infelizmente, para todos nós, com dados que não se alteraram (ver na integra). 

Aqui ficam alguns trechos do texto.

"As mulheres sofrem desproporcionadamente de falta de acesso ao ensino superior em Moçambique. Segundo a UNESCO, em 2011 a taxa bruta de matrículas de mulheres no ensino superior era de apenas 3.73%. Embora esta situação esteja presente nos países da África Subsariana, Moçambique está particularmente atrás no que toca à matrícula de mulheres assim como da generalidade de jovens nas disciplinas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Muximpua concluiu o ensino secundário com elevada classificação. Lembra-se de, a seguir, ter estado hesitante até ao último minuto quanto à escolha do curso de engenharia." 

“Aqui em Moçambique, são muito poucas as mulheres que seguem engenharia. A maioria das universitárias vai para ciências sociais ou medicina”.
"As matrículas no ensino terciário em África estão fortemente centradas em humanidades e ciências sociais, com apenas 25% dos estudantes a optarem pelas áreas de STEM. Entres os que o fazem, são poucas as mulheres. É este desequilíbrio que o PASET, uma parceria liderada por África para promover o ensino das Ciências Aplicadas, Engenharia e Tecnologia, está a tentar corrigir. O PASET tem por objectivo criar uma capacidade científica e técnica em África através de iniciativas, como por exemplo o fundo regional para bolsas de estudo e inovação (scholarship and innovation fund) e a avaliação dos programas ASET em instituições."
"Precisamos da ciência e da tecnologia para resolver os problemas de África em agricultura, energia, saúde, infra-estruturas e desafios como as alterações climáticas”, disse Sajitha Bashir, Gestor de Práticas de Educação do Banco Mundial para a África Austral e Oriental. “Isto torna as iniciativas, como a PASET, um elemento fundamental para os governos africanos que, agora, reconhecem a importância de apoiar o ensino da ciência e da tecnologia no continente”.

domingo, 5 de março de 2017

Microbiologia: viagem ao mundo invisível (Parte I)


O Homem tende, por natureza, a estar mais atento ao que o rodeia de forma visível, em detrimento daquilo que não consegue ver com os seus próprios olhos de uma forma natural. Este comportamento não é recente, muito pelo contrário, remonta às Escrituras a expressão “Ver para crer!”. Contudo, existe um “mundo invisível”, mas bastante activo ao nosso redor, e parte dele somos nós próprios que o transportamos. A ciência que se dedica ao estudo deste “mundo invisível” denomina-se Microbiologia. Se fizermos a decomposição da palavra, veremos que “micro” significa pequeno, “bio” representa vida e “logia” (que deriva do grego logos) significa estudo. Assim, podemos dizer, de uma maneira mais simples, que a Microbiologia é o ramo da Biologia que se dedica ao estudo dos seres pequenos.

Em 1673, Antoine van Leeuwenhoek, observou pela primeira vez, com auxílio de uma lente simples, microorganismos. Esta observação valeu-lhe o reconhecimento como primeiro microbiologista. Seguiram-se a van Leeuwenhoek outros nomes que ficariam para a História pelas descobertas feitas  no mundo microscópico, nomeadamente, Louis Pasteur e Robert Koch, os primeiros cientistas a propor que as bactérias seriam vectores de diversas doenças que atingiam o Homem.


A Microbiologia pode ser dividida em quatro grandes áreas de estudo, a saber: Parasitologia, Bacteriologia, Virologia e Micologia (Figura 1).



Figura 1. Imagens ilustrativas das diferentes áreas de estudo da Microbiologia, nomeadamente, a Parasitologia, a Bacteriologia, a Virologia e a Micologia.


A Parasitologia é a parte da Microbiologia que se dedica ao estudo dos parasitas, dos hospedeiros e das relações que se estabelecem entre parasita e hospedeiro. Um parasita bastante comum em Moçambique é o Plasmodium falciparum, parasita responsável pela malária, doença que afecta uma grande parte da população moçambicana. O Plasmodium falciparum (Figura 2) tem como vector o mosquito da espécie Anopheles sp. (Figura 3). Este é apenas um exemplo de parasita, mas existem muitos muitos mais.

 
Figura 2. Diferentes fases do desenvolvimento das formas masculina e feminina de Plasmodium falciparum, a espécie mais comum em Moçambique. Adaptado de Nature Reviews Microbiology 13, 573–587 (2015)

Figura 3. Imagem ilustrativa de um mosquito da espécie Anopheles sp. Esta espécie é o vector do parasita causador da malária, Plasmodium flaciparum. Imagem retirada de https://drerwinwijatmiko.wordpress.com/2013/12/

A Bacteriologia é a parte da Microbiologia que se dedica ao estudo das espécies bacterianas. As bactérias são seres microscópicos, unicelulares, e estima-se que tenham sido as primeiras formas de vida a surgir na Terra há biliões de anos. De uma forma genérica, as bactérias podem ser classificadas de acordo com a sua forma e/ou de acordo como se apresentam depois de aplicada a técnica de coloração de Gram. Assim, podemos ter: cocos, se a forma for esférica; bacilos, se a forma for de bastão; vibrião, se for em forma de vírgula; espirilos, se for em forma de espiral (Figura 4).
Figura 4. Diferentes formas de células bacterianas. Imagem retirada de http://meumundoeciencias.blogspot.pt/2015/04/execicios-sobre-bacterias-7-ano.html

Tendo em conta a maneira como se apresentam depois de aplicada a técnica de Coloração de Gram, podemos classificar as bactérias em bactérias de Gram Negativo e bactérias de Gram positivo.

Não percam a próxima viagem...vamos conhecer a Virologia e a Micologia!!