Relembro que, segundo Edward Osborne Wilson (n. 1929), biólogo americano, especialista em insetos, e investigador científico externo do Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, “a Gorongosa (…) é ecologicamente o parque mais diverso do mundo”.
Como já disse, esta diversidade é o resultado de milhões de anos de evolução. O principal mecanismo de evolução das espécies é a seleção natural. Mas como funciona a seleção natural?
Não tendo sido o primeiro a tentar explicar a variação dos indivíduos de uma mesma espécie e as diferenças entre espécies extintas e atuais, o naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829), autor da obra Philosophie Zoologique (1809), foi um dos que mais influenciou o pensamento de outros naturalistas da sua época e posteriores.
Este
naturalista desenvolveu uma teoria conhecida como Transformismo: as alterações
no meio ambiente obrigariam as espécies a modificarem-se para se adaptarem ao
seu habitat e, ao longo do tempo, essas modificações levariam à transmutação
das espécies. Esta teoria pressupõe a Lei do Uso e Desuso: uma determinada
característica poderia desenvolver-se ou desaparecer, conforme fosse usada ou
não. Esta teoria também é conhecida como Hereditariedade dos Caracteres
Adquiridos: durante a sua vida, os indivíduos de uma espécie iriam adquirindo
características; essas características adquiridas seriam depois transmitidas à
geração seguinte.
O exemplo
típico seria o das girafas: inicialmente, todas as girafas teriam o pescoço
curto; para se alimentarem das folhas mais altas das árvores, esticariam o
pescoço; isso faria com que as suas crias nascessem com o pescoço mais comprido
do que o normal; essa caraterística adquirida seria cada vez mais desenvolvida
e transmitida de geração em geração; depois de várias gerações, todas as girafas
teriam, tal como têm, o pescoço comprido.
Outro
naturalista que formulou uma teoria acerca da origem e evolução das espécies
foi o britânico Charles Darwin (1809-1882). Este terá sido influenciado pelo
trabalho desenvolvido por muitas outras personalidades, tais como: Erasmus
Darwin (1731-1802), Robert Malthus (1766-1834), e Charles Lyell (1797-1875).
Um dos
eventos mais importantes da sua vida foi a viagem a bordo do Beagle
(1831-1836). Durante a volta ao mundo, Darwin teve a oportunidade de observar
de perto a flora e fauna de diversos locais. Um dos locais que mais
impressionou Darwin foi o arquipélago das Galápagos, no Oceano Pacífico. Neste
arquipélago, os animais que mais chamaram a atenção de Darwin foram as
diferentes espécies de tentilhões, tartarugas e iguanas.
Ao longo da
viagem, Darwin foi construindo os princípios básicos da sua teoria, e chegou à
conclusão que o principal mecanismo que determina a origem e evolução das
espécies é a seleção natural.
Em 1957,
Darwin recebeu uma carta que lhe tinha sido enviada por outro naturalista
britânico, Alfred Russell Wallace (1823-1913). Nessa carta, Wallace dizia que
as espécies se originam e evoluem por seleção natural. Ou seja, tanto Darwin
como Wallace tinham chegado à mesma conclusão, ao mesmo tempo, sem se
conhecerem pessoalmente.
Ainda que os
dois não concordassem em todos os pormenores da mesma teoria, decidiram fazer
uma apresentação conjunta à comunidade científica britânica, em 1958. Na
altura, a maioria dos seus colegas não aceitou esta teoria, e os dois acabaram
por ser ridicularizados.
No ano
seguinte, em 1959, Darwin publicou um dos livros mais influentes da história da
humanidade, no qual descreve, de forma sumária, a sua teoria: A Origem das Espécies por meio da Seleção
Natural ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida. Nas
edições posteriores, o título do livro foi diminuindo, e hoje-em-dia chama-se
simplesmente A Origem das Espécies. Depois
da publicação do livro, Darwin ganhou mais notoriedade e mais adeptos, tendo
sido defendido por várias personalidades importantes da sua época, como Thomas
Huxley (1825-1895), conhecido como O Buldogue de Darwin.
No seu livro,
Darwin enuncia os principais fatores responsáveis pela seleção natural:
variação, conseguida através de descendência com modificação; adaptação,
relativamente ao meio ambiente; e hereditariedade, responsável pela passagem de
características de geração em geração. Nesta teoria, um dos conceitos-chave é a
Luta pela Vida: a sobrevivência dos mais aptos, entenda-se mais bem adaptados
ao meio ambiente.
Isto implica
que haja variedade numa população de organismos; essa variedade é conseguida,
porque alguns indivíduos nascem com características diferentes da maioria; e
isso acontece simplesmente por acaso, devido àquilo que hoje sabemos serem
razões de ordem genética.
Os indivíduos
que, por acaso, nascem com características que lhes permitem estar mais bem
adaptados ao meio ambiente onde estão inseridos são os indivíduos que sobrevivem
durante mais tempo, que estão em melhores condições, e que se reproduzem mais,
dando origem a mais descendentes. Por isso, os indivíduos são naturalmente
selecionados.
As características
destes indivíduos, que aparecem por acaso e que são vantajosas em relação ao
meio ambiente, são depois transmitidas de geração em geração, através daquilo
que Darwin designava por “fatores”, e que sabemos hoje serem os genes. Quando
essas características são substancialmente diferentes das características da
população original e estão presentes numa grande quantidade de indivíduos,
podemos dizer que nasce uma nova espécie.
Aplicando
esta teoria ao exemplo das girafas: inicialmente, todas as girafas teriam o
pescoço curto; a determinada altura, por acaso, algumas girafas nasceram com o
pescoço mais comprido do que o normal; essas girafas estavam mais bem adaptadas
ao meio ambiente, uma vez que se alimentavam das folhas mais altas das árvores;
por isso, essas girafas sobreviviam durante mais tempo, em melhores condições,
e reproduziam-se mais, dando origem a mais descendestes; assim, essa característica
foi sendo transmitida de geração em geração; com o passar do tempo, as girafas
de pescoço curto foram desaparecendo, até que se extinguiram, enquanto as
girafas de pescoço comprido foram-se multiplicando, dando origem a uma nova
espécie.
Na sua maior obra,
Darwin não fez referência à origem e evolução do ser humano, dizendo apenas que
“será lançada mais luz sobre a origem e história do Homem”. Em 1871, Darwin
publicou A Descendência do Homem e
Seleção em relação ao Sexo.
Uma das
curiosidades é que Darwin conseguiu desenvolver todo o seu raciocínio sem nunca
chegar a conhecer as descobertas do monge austríaco Gregor Mendel (1822-1884),
responsável pela enunciação das Leis da Hereditariedade, e conhecido como Pai
da Genética. Isto aconteceu, porque na altura as suas conclusões não foram
suficientemente divulgadas, tendo sido redescobertas e difundidas em 1900, por
outros cientistas.
Um dos
primeiros cientistas a provar que a teoria do Transformismo não está correta
foi o biólogo alemão August Weismann (1834-1914), descobridor da chamada
“barreira de Weismann”. Para refutar a Hereditariedade dos Caracteres Adquiridos,
fez uma experiência: cortou as caudas a ratos machos e ratos fêmeas; depois de
os juntar, estes tiveram crias; essas crias não nasceram sem caudas, mas sim
com caudas normais; fez isto ao longo de algumas gerações, e o resultado foi
sempre o mesmo. Com este e outros estudos, começou a conciliar a seleção natural
com as Leis da Hereditariedade.
A partir de
então, vários cientistas que foram unificando a teoria de Darwin com as
descobertas de Mendel, dando origem a uma nova corrente sobre a origem e
evolução das espécies: o Neodarwinismo, também conhecido como Teoria Sintética
da Evolução, ou Síntese Evolutiva Moderna, ou Teoria Moderna da Evolução. O
principal representante deste movimento foi o geneticista ucraniano Theodosius
Dobzhansky (1900-1975), autor do livro Genética
e a Origem das Espécies.
Entretanto,
foram surgindo outras teorias sobre a evolução das espécies, das quais se
destaca a Teoria dos Equilíbrios Pontuados, proposta pelos paleontólogos
norte-americanos Niles Eldredge (n. 1943) e Stephen Jay Gould (1941-2002).
Segundo esta teoria, os indivíduos de uma espécie podem não sofrer alterações
durante um longo período de tempo, e as mudanças evolutivas podem ocorrer de
forma rara e rápida. Ou seja, longos períodos de equilíbrio, sem alterações, podem
ser pontuados por raros e rápidos períodos de evolução.
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