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domingo, 2 de julho de 2017

Imitar a Natureza

A natureza sempre nos serviu de inspiração na hora de inovar e criar novos artefactos com o objectivo de tornar a nossa vida mais fácil. Não é difícil imaginar que o desenho dos navios e dos aviões tiveram a sua origem em horas e horas de observação e um profundo estudo da fisionomia dos peixes e das aves. A nossa aventura na Terra obriga a conhecer profundamente aqueles que tão bem exploram e dominam os diversos meios.

Há cerca de 3,8 biliões de anos, desde o surgimento dos primeiros micro-organismos na Terra, a Natureza vem acumulando uma considerável experiência em termos de evolução. Já passaram por aqui espécies que tiveram um enorme sucesso, como as esponjas do mar que têm 760 milhões de anos de existência, e outras que desapareceram, como os dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos. As espécies sobreviventes representam apenas 1% de todas as que já passaram pela Terra ou seja 99% delas foram extintas.

Apesar de parecer que desde sempre ocupamos a Terra a nossa história começou há apenas 200 mil anos, somos uma espécie muito nova e temos muito que aprender com os milhões e milhões de anos de tentativas e erros das plantas, animais e micro-organismos na luta pela sobrevivência. Na verdade só temos que imitar as estratégias desses génios da natureza.

Esta arte de estudar as estruturas biológicas e suas funções chama-se biomimética e pertence a um campo de trabalho interdisciplinar entre a Ciência dos Materiais, Engenharia e Biologia, que estuda o uso de princípios biológicos para síntese ou fabricação de materiais biomiméticos, tem tido um vasto campo de aplicações em diversos domínios da ciência. A etimologia do termo biomimética está relacionada diretamente com a conjugação dos termos gregos bios: vida; e mimesis: imitação.

Um exemplo, já antigo, é o velcro que foi patenteado pelo engenheiro suíço Georges de Mestral, Quando regressava de uma jornada de caça observou como as sementes de uma planta do Género Arctium insistiam em colar-se à sua roupa e ao pelo do cão. Depois de um olhar mais atento às estruturas destas sementes inspirou-se para conceber a maior inovação no mundo do vestuário dos últimos anos. Mais recentemente um engenheiro japonês, Eiji Nakatsu, encontrou no bico do Martim-pescador a inspiração para o desenho do nariz de um comboio de alta velocidade. Que se viria a revelar perfeito em termos redução de ruído e gasto de energia, ao mesmo tempo que consegue atingir velocidades maiores.

Já devíamos saber que não há melhor laboratório no Mundo que o próprio Mundo. Funciona há milhares de anos e que tem vindo a adaptar os diferentes seres vivos à realidade em constante mutação permitindo deste modo a sobrevivências das espécies. É um grande laboratório a que chama Evolução!

Actualmente a Biomimética aplica-se em áreas tão diversas como a arquitectura, energia, transporte, agricultura, medicina e à comunicação.

Se por um lado estamos a aprender com as baleias como produzir energia eólica mais eficiente por outro estudamos atentamente as termiteiras para podermos construir edifícios mais eficazes energeticamente. E que dizer do mosquito, esse animal que é responsável por milhares de mortes em todo o mundo mas que nos está a “ensinar” a desenhar agulhas menos dolorosas.

Talvez a Natureza tenha mais soluções para os nossos problemas do que pensamos. Na próxima vez que passear por uma qualquer cidade procurem nela a Natureza escondida nos pormenores. Da mesma forma procurem as soluções para os problemas olhando atentamente a Natureza. 


Tudo se resume a prestar muita atenção à Natureza ao que o que está em redor e a resposta está quase sempre diante dos nossos olhos. Ser imaginativo, curioso, estudioso e atento compensa sempre!
Acreditem!


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com Nuno Negrões – Biólogo, Investigador e Divulgador de Ciência

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