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terça-feira, 14 de março de 2017

Cestos e o pássaro equilibrista - a ciência nas mãos.

Procurem na rua um artesão que vende o famoso pássaro equilibrista. Não lhe perguntem o princípio físico que suporta este precioso equilíbrio, perguntem-lhe como é que, através da sua arte, ele consegue obter esse mesmo equilíbrio.



Observar este princípio físico do pássaro equilibrista é bastante simples. Colocando as penas da cauda no suporte, ou na ponta do dedo, a que se chama ponto de apoio, ele oscila em torno desse ponto de equilíbrio sem cair. Ou simplesmente podemos fazê-lo girar na horizontal em torno do ponto de apoio.

Por que é que o pássaro não cai? O princípio físico é bastante simples: quando apoiamos o pássaro no ponto de apoio ele fica em equilíbrio devido ao contrapeso que existe nas extremidades das asas, que têm a função de deslocar o centro de massa do pássaro. No fundo, a posição média de toda a massa que constitui o corpo fica sobre o ponto de apoio e, desta forma, temos um equilíbrio estável do pássaro. É só por isto que ele na cai.

Muitas destes encontros com a Ciência acontecem quase sempre fora da Escola. Num dos últimos artigos de Paulus Gerdes, “Reflexões sobre o ensino da matemática e diversidade cultural”, publicado na Revista Latino-americana de Etnomatemática (vol. 7, núm. 2, junho – setembro de 2014), ele explora alguns exemplos, que surgem em contexto de aprendizagem não-formal, para potenciar a sua utilização na formação de professores e com os alunos do ensino secundário.

Ainda sobre o trabalho de Paulus Gerdes e, desta feita, ao livro “Sipatsicestaria e geometria na cultura Tonga de Inhambane”, publicado pela Moçambique Editora, em 2003. Nele podem ficar a saber a forma de trabalhar das mulheres que produzem os belos cestos de Inhambane. As figuras geométricas e os padrões obtidas através do simples entrelaçar de várias palhas coloridas originam padrões e formas matemáticas como se tivessem toda a Geometria nas mãos. É certo que estará algures no cérebro, sendo este um conhecimento inato que passa de geração em geração, mas que surpreendentemente foi evoluindo na complexidade das formas obtidas.

As cesteiras, na sua maioria mulheres, nunca foram à Escola aprender a sua arte. É este trabalho que pode ser essencial para estabelecer uma ligação cultural que valorize o seu saber e que pode ser aproveitado para a formação de professores e alunos com uma forte componente étnica ou local. Agora observem um cesto, um simples cesto, e vejam a Arte e a Matemática que ele contém.

Com os muitos exemplos que conhecemos do “saber empírico” que nos rodeia e o saber fazer inato que passa de geração em geração, devemos todos refletir sobre a sua importância e qual o processo necessário para fazer germinar nos nossos jovens o interesse e a criação de gosto pela Ciência e pela Arte. A Etnomatemática é uma excelente didática e é, sobretudo, um excelente caminho para levar os jovens a gostar da Matemática, percebendo-a! 


O desenvolvimento da Etnomatemática está intimamente ligado ao trabalho de Paulus Gerdes, diria mesmo que se confundem. Este reputado Professor Moçambicano, já falecido, fundador da Universidade Pedagógica e uma referência mundial na Matemática. 


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