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sexta-feira, 10 de março de 2017

Biologia Experimental Moderna: Nicolau van Uden esteve em Moçambique!

O filósofo grego Aristóteles (384 a. C. - 322 a. C.) é considerado, por muitos, o Pai da Biologia, visto que foi um dos primeiros a estudar e classificar seres vivos. Já o padre e filósofo natural italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799) é frequentemente apontado como um dos primeiros a realizar trabalhos de Biologia Experimental, pelas atividades experimentais que conduziu ao longo da sua vida.

Quanto à Biologia Moderna, esta surgiu principalmente com as teorias do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882), sobre a origem das espécies por meio da seleção natural, e com as descobertas do monge e naturalista austríaco Gregor Mendel (1822-1884), relacionadas com as leis da hereditariedade. Nessa mesma época, começaram a ser conduzidas atividades experimentais mais arrojadas, pioneiras da Biologia Experimental Moderna. De entre as primeiras, talvez se possam destacar aquelas realizadas pelo médico francês Claude Bernard (1813-1878) e pelo cientista francês Louis Pasteur (1822-1895).

Em Portugal, um dos responsáveis pela introdução da Biologia Experimental Moderna foi o médico holandês Nicolau van Uden (1921-1991), que esteve em Moçambique em 1959.




Nicolaas (Nicolau) Johannes Maria van Uden nasceu na cidade de Venlo, na Holanda, a 5 de março de 1921. Depois de terminar o liceu, com notas muito altas, na sua cidade natal, van Uden ingressou na Universidade de Viena, onde viria a concluir a licenciatura de Medicina. Durante este período, iniciou a prática de investigação científica num laboratório de Dermatologia, com base na qual publicou artigos sobre agentes patogénicos humanos e animais, com especial ênfase no agente causador da sífilis.

Foi na capital austríaca que, em 1945, conheceu D. Maria Adelaide de Bragança (1912-2012), com quem viria a casar no mesmo ano. Ambos comungavam do desejo de irem para África, com o intuito de prestar apoio social e médico às populações daquele continente, em particular em Moçambique. Em 1948, o casal resolveu mudar-se para Portugal. Durante os primeiros dois anos no nosso país, van Uden estava, duas vezes por semana, num laboratório do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, onde tinha de manter a coleção de culturas e ajudar nos isolamentos. Durante este período, desenvolveu um estudo sobre as pulgas em humanos.

Uma vez que o diploma do curso de Medicina que van Uden tinha concluído na Universidade de Viena não era reconhecido em Portugal, viu-se obrigado a completar uma nova licenciatura, tendo-se depois especializado em medicina tropical e em dermatologia.
Em 1950, iniciou uma secção de Micologia Médica no Departamento de Micologia do Instituto de Botânica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. A investigação aqui produzida levou à identificação de dezenas de novas espécies de leveduras e à publicação de vários artigos científicos. Em 1952, iniciou a Coleção Portuguesa de Cultura de Leveduras.

Em 1959, fez uma viagem a Moçambique, onde permaneceu nove meses, dedicando-se ao levantamento de doenças e à vacinação de pessoas. Foi também neste país que recolheu amostras que lhe permitiram descrever e analisar leveduras intestinais do microbioma de animais domésticos (como cabras e porcos) e de animais selvagens (como hipopótamos e babuínos). Por esta altura, passou a ser conhecido como um especialista em três áreas: Taxonomia de Leveduras, Micologia Médica e Veterinária, e Microbiologia Marinha.

Através da investigação científica levada a cabo por si e pelos seus colaboradores, na década de 1960, no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, van Uden foi um dos responsáveis pela emergência da Biologia Experimental Moderna em Portugal.

Em 1969, van Uden iniciou um programa internacional de cursos monográficos intensivos de pós-graduação, que sempre dirigiu, e que viria a influenciar o rumo da ciência e do ensino em Portugal: os Estudos Avançados de Oeiras. Foi com estes cursos que novos métodos de investigação científica e de ensino foram sendo introduzidos, na área das ciências da vida, em várias instituições de ensino superior, não só em Portugal, como noutros países.

No final de 1974, van Uden defendeu a sua tese de Doutoramento na Universidade de Coimbra, em Genética Molecular. Faleceu no seu laboratório, em Oeiras, a 5 de fevereiro de 1991, poucos dias antes de completar 70 anos.


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